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Mostrando postagens com o rótulo alemanha

Andando atenta

Voll und ganz bewusst sein  pela cidade, é uma coisa que aprendi por aqui, e estranhamente não no Brasil. É andar atento. Totalmente atento! Não é estar de olhos abertos por ter medo do que possa acontecer, mas atento às belezas ao redor de si mesmo, enquanto se caminha pela cidade, por exemplo. Pode-se é claro, andar atento numa floresta ou numa praia, mas na cidade é muito bom. É um flâner , como se diz em francês. É passear meio que sem destino, quase flutuando, se deixando levar por ruelas, entrando e saindo delas sem pressa. Descobrindo coisas. Observando os cantos escondidos de um lugar, os olhares das pessoas, é andar sorrindo, o que aliás, também aprendi com os alemães. Acho injusto pessoas que não reparam na beleza dos alemães e ficam só reclamando de sua frieza. Eles são gentis... Andei hoje assim por minha antiga cidade, Freiburg. Fui sozinha para consultas de rotina com aqueles que preferi manter: meu querido dentista e minha doce ginecologista estão lá. Fui de trem...

Do dia a dia em tempos difíceis

O jardim tem sido meu lugar de terapia. Mexer com terra, podar, regar, adubar. Para cada planta, uma necessidade e um tempo diferente. Como tem sido proveitosos esses momentos no quintal! Não canso de agradecer a Deus por Ele nos ter colocado nesta casa antes da pandemia. Ter duas crianças presas em um apartamento sem poder movimentar-se e tomar sol, deve mesmo ser dureza. E o jardim tem se revelado uma caixinha de surpresas pra mim, que nunca tive um aqui e jamais, para ser sincera, havia notado as loucas mudanças que ocorrem dentro dele. É muito incrível perceber uma nova planta que surge do nada, florescendo com belas flores, quando nada, absolutamente nada, se via antes. O inverno cobre com seu manto frio, escondendo tudo e dando a impressao de mortificação. A primavera tira algumas camadas, o verao outras... e a cada mês temos um jardim diferente. Vivo! Isso é quase mágico... ** Tenho um aplicativo maravilhoso no meu celular, o Picture This . Fotografo uma planta que não c...

Crônica do meu dia

Como é fácil nos enervar com as pessoas, não é?! Nos irritar com qualquer coisinha ou coisona. Olhamos para a humanidade e nao entendemos de onde vem tanta maldade. Orgulhosos clamamos aos quatro ventos "vergonha do ser humano".  Às vezes dá vergonha mesmo... mas daí, pequenas coisas acontecem... Estamos no finzinho do outono e em alguns dias começa o inverno. Hoje é dia de São Nicolau por aqui. Tradicionalmente, as pessoas deixam chocolates e/ou brinquedinhos nos sapatos das criancas de manhã cedinho e quando elas acordam, se alegram tanto que a crença na humanidade volta de repente, afinal, nao foi o tal do Nicolau que fez aquele gesto da manhã.  Mais cedo, um vizinho bonzinho colocou anonimamente, na porta de cada apartamento do pequeno prédio em que moro, um pacotinho de doce. Meu filho mais velho chegou em casa falando que a menininha do andar de baixo, olhou pra ele no elevador e disse: "Hoje é dia de Nicolau! Pega pra você um presente". E deu a ele u...

Domingo de manhã

Acordei cedo. O dia amanheceu com preguica, o sol ainda estava encoberto, havia um pouco de neblina e fazia um friozinho de 4 graus. Vesti o casaco e fui. Fazia tempo que nao precisava fazer algo cedo num domingo. Me surpreendi com a beleza desse dia da semana, e quero me dispor a fazer isso mais vezes. Domingo de manha pode ser um encanto. É bonito ver que as pessoas nao estao esbaforidas, correndo de um lado pra outro porque estao atrasadas, ou que as ruas nao estao cheias de carros, ou que os funcionários da prefeitura nao estao fazendo uma interminável reforma na sua rua. Passo a observar mais as pessoas e paisagens no domingo de manha. E isso é agradável!  Entro no bonde que está quase vazio para o horário, normalmente os estudantes enchem o bonde com seu barulho juvenil e suas mochilas cheias e pesadas, empurrando a todos no caminho, ou há sempre pessoas penduradas em seus celulares falando todo o idioma que é possível aqui ser ouvido. Domingo de manha nao é assim. Do bo...

Voltar para o Brasil?

Às vezes eu penso que tenho saudade de viver no Brasil. E entao passa de relance a ideia de voltar. Alguma coisa faz falta, quando se vive longe do seu país de origem. Alguma coisa que nao tínhamos antes, quando morávamos lá. E temos a impressao de que também nao temos agora, nem nunca teremos, mas que só agora essa coisa, faz realmente falta. É. É complicado de explicar.  E isso faz parte do "ser estrangeiro", tanto aqui, quanto lá. Há os que dizem que viver longe, ou ter o desejo de, é uma fuga. Fugimos inconscientes ou nao, daquilo que nos afligiu um dia. Geralmente, tem a ver com infância. Dos medos que carregamos e que pensamos ficar livres quando nao presenciarmos mais os mesmos ambientes de antes.  Pode ser.  Foi. No meu caso. Tanto que tenho a sensacao desde muito menina, que o lugar em que eu vivia nao fazia parte de uma escolha do meu coracao. Mas, daí, passaram-se anos, e a menina em mim cresceu. Fugi por anos, da vida que levava, mas só há pouco ...

Casinhas típicas

Hoje fiz um maravilhoso curso de culinária numa cidadezinha próxima a minha.  O lugar era tao lindinho que tive que fotografar pra ti ver que fofura é quando encontramos um lugar cheios dessas casinhas, aqui chamadas Fachwerkhaus. Toda a cidade, na verdade, uma vila, era cheia delas. E como o clima estava "propício", para fazer fotos, aproveitei o céu branco, a temperatura de 4° C, o vento frio, a neblina, o leve chuvisco e fui fotografar :-( As Fachwerkhäuser ocorrem muito na regiao em que vivo, mais pro sul da Alemanha, mas parece que nao sao típicas daqui. Datam da Idade Média, em sua maioria e a casa mais antiga é do ano de 1200 e tralálá... faz tempo né? Mas os alemaes nao gostam muito delas nao... vai ver que enjoaram. Na verdade elas sao muito frias, muito antigas e normalmente por dentro sao pequenas e apertadas. Mas bom, a gente nao precisa morar nelas para achar bonitas, né?! Klischee Klischee du tust ja weh!! (clichê, você dói) ...

Outono um pouco diferente

Como li num site de uma moca suica, estamos com sorte neste novembro. "O outono ainda nao vestiu seu longo vestido cinza escuro". É verdade. Novembro costuma ser o mês mais chato, pelo menos pra mim, só perdendo pra fevereiro, que costuma ser o período mais frio do ano e quando as pessoas já estao de saco completamente cheio do frio, esperando ansiosamente os dias da primavera. Novembro é  nebuloso em vários aspectos. A temperatura cai bruscamente. O sol aparece poucas vezes no céu. Há chuvas constantes. As folhas estao caindo todas, amareladas, marrons, vermelhas, e as ruas estao cheias delas, grudadas no chao formando uma laminha cor de ferrugem, fazendo pessoas escorregarem. O céu torna-se branco, cinza claro, parece engolir de vez, o azul que estava ali há algumas semanas. Os dias acordam muito preguicosamente, e a neblina toma conta de tudo. Algumas vezes nao vemos nada  um metro a nossa frente. As árvores parecem escurecer seus caules e galhos, tornando a paisagem aind...

Pedalando pela vida

O dia comeca meio lento. Uma nuvem escura e pesada fica se formando lá fora da minha janela. Tem um ventinho estranho pra dias de verao, mas nao faz frio. O pequenininho coloca seu capacete, fecha o cinto de seguranca da cadeirinha e agarra firme na cintura da mamae enquanto esta comeca a pedalar. O deixo na escolinha e continuo o caminho em direcao a feira. Uma chuvinha fina comeca e eu paro quando ela dá uma encorpada. Debaixo da verdejante copa de uma frondosa árvore, fico observando o pouco movimento da rua, quando muitos dos moradores da cidade, já sairam de férias de verao. Algumas bicicletas, poucos carros. Uma senhora passa com um guarda chuva vermelho e um cachorrinho brinca na chuva, um rapaz passa falando alto num outro idioma no celular, enquanto pedala, os motoristas dos carros olham pra mim. E eu embaixo da árvore, lembro das chuvas grossas do Amazonas. Quando no meio daquele trânsito caótico de Manaus, certa vez, peguei todo o temporal de pingos grossos e em vez de recl...

A senhora da janela

Perto de casa há muitas janelas. Muitas floridas janelas. No prédio quase ao lado do meu, numa construcao antiga e cor de rosa, de janelas gastas num azul que já fora bonito, há uma senhora que todos os dias, pode ser vista olhando o movimento da rua. De cabelos curtos, encrespados e brancos, ela passa seu tempo olhando tudo. Pode ser inverno, pode estar nevando, chovendo granizo, sol tinindo, lá está ela, todos os dias. Na janela. Meu filho sempre que passa por lá, olha para o primeiro andar à  procura da "senhora da janela", como dizemos nós dois. - Olha Pedro, lá está ela, a senhora da janela. - Ele olha e acena: hallo ! mesmo estando longe, do outro lado da rua.  Ela já conhece o horário em que ele passa, e parece ficar a espera do hallo do meu filhinho. Faco que nao olho diretamente e percebo de rabo de olho o seu interesse. Ele fala: - olha mae, a senhora da janela. E grita um hallo bem alto e acena. Ela se anima, acena de volta  e continua acenando, até qu...

Preconceito contra amazonenses

Faco parte de uma "minoria". Sou fruto de uma terra extraordinária, porém, frágil, onde sao as árvores que firmam o solo e nao o contrário. Sou índia, em termos. Em poucos pedacos de mim. Misturada, sim senhor! Mas índia com orgulho. Minoria por ter sido e ser, massacrada pelos brancos e pelos encardidos.  Essa Copa tem trazido lembrancas à minha mente. Lembranca das vezes que fui maltratada pelo meu próprio povo, o resto do Brasil que se considera tudo, menos índio. Que se considera maioria. Grande coisa...  O fato de minha cidade, Manaus, ter sido escolhida pela Fifa como melhor cidade sede da Copa, fez com que os pobres amazonenses, geralmente, acostumados a desrespeito, se sentissem um tiquinho valorizados. Elogiados, nao, obviamente, pelo seu próprio povo, claro que nao, mas pelos "de fora". Onde moro atualmente, na Alemanha, em qualquer lugar que vou e menciono de onde venho, ouco sempre um "oohhhhh", cheio de encantamento. As pessoas aqui a...

Bel e a neta de Deus

Estava cuidando das plantinhas aqui de casa quando lembrei da minha amiga e irma em Cristo, Bel. Ela mora algum tempo em Berlim. Segundo ela, a vida na cidade tem lhe apresentado várias situacoes interessantes. Hoje quero compartilhar uma de suas experiências. O dia em que Bel conheceu uma moca com características muito alema: fala o que tem vontade de falar sem receio de ofender. Geralmente quem fala o que quer, ouve o que nao quer, nao é? E a Bel nao se conteve e também falou o que teve vontade... "Estava andando numa rua e fiquei observando uma florista arrumar suas flores na sua linda loja. Ela perguntou se eu desejava algo, mas respondi que apenas admirava as flores, que eram lindas. Ela perguntou de onde eu era, fez a maior festa para o Brasil, falamos da Copa, do jogo que teria logo mais, ela disse que o Brasil tem espécies lindas de flores e até citou uma orquídea exclusiva do Brasil que eu nem sabia.  Ela me perguntou se eu gostava de flores ao que presto ...

No dia a dia

O menino estava sendo puxado pelo pai. O sol era forte. Suor escorria na testa do menininho. Seu bracinho era puxado pelo pai e ao mesmo tempo, ele cravava os calcanhares na areia. Nao queria ir embora. Fiquei olhando. A sensacao de estar sendo levado sem se desejar tomou conta de mim. Me vi menina de novo. A cena voltou a minha memória. Tremi. Como é ruim ter que sair de onde se está se divertindo tanto! Tinha passado por aquilo e a cena do corpinho encurvado, nao querendo sair do lugar, invandiu meus dias. Nao gostei de lembrar que vivi isso num playground qualquer da vida.  O menininho, o outro, o daqui, chora pra nao ir pra escolinha. Se agarra às pernas da mae, faz drama, nao quer caminhar até a escola, que fica uns 300 metros de casa. Nao quer ir de bonde, nem de bicicleta, nem de Laufrad* , nem andando, nem de carrinho de bebê. Nao quer ir. E só vai se mamae carregar no colo. Bate os pés. Dos olhos escorrem lágrimas pesadas. Chora alto. Grita. Faz os moradores dos...

Um rua muito lindinha

Estava uma tarde meio tristinha, dia nublado depois de chuva da manha. Mas tinha um clima gostoso e melancólico que motivava a dar uma respirada no ar fresco e úmido lá de fora. Levei minha máquina e fomos passear no centro. Passear só por passear, sem vontade de olhar mais nada que nao fosse, a beleza dos cantinhos da cidade que me acolheu há 8 anos. Parei numa das ruelas mais bonitinhas da cidade e fiquei lá horas, só olhando... Olha que bonitinha! Traducao: nao conheco estresse só strass :-) Gosto muito!

No cangote de Deus

Nao sou mulher de dar beijinhos ao encontrar alguém. Nunca soube lidar bem com isso. Parece tao fresco! Nunca sei em que regiao do Brasil se dá um beijo, dois, três. Quando uma pessoa dá dois, a outra que dá três, fica com cara de tonta esperando o último beijo. Chato é também, quando se dá somente um (no meu caso, o melhor de todos) a outra que dá dois, beija o ar. Esquisito demais. Por isso gosto tanto de ver os alemaes, que nao dao beijos, dao abracos. Isso, obviamente, quando estao entre conhecidos. Quando nao, sempre se dao as maos. Mas eu, que sou uma pessoa extremamente expansiva e espontânea, abraco todo mundo. Percebi isso mais claramente nas últimas semanas. Outro dia fiz um curso de culinária, daqueles de um dia somente. Foi ótimo, qualquer dia conto aqui o que fizemos. Mas foi engracado por que no fim - éramos 10 pessoas -  eu, ao me despedir, abracei cada um deles, um por um. E eles entre si (todos alemaes) se deram as maos. Mesmo que tenhamos tido horas super agradáv...

Boas obras e nossa vida com Deus

Há algumas semanas decidi que queria fazer um trabalho voluntário. Comentei com meu marido e comecamos a fazer buscas. Gostaria de ajudar pessoas, mas nao queria ir para hospitais de criancas, porque sei que me sentiria muito mal ao ver aqueles pequenos doentes. Nem queria nada com jovens problemáticos. Os meus me bastam.  Pensei entao, em cuidar de velhinhos. Passei uma semana procurando, nada surgia e quando algo parecia interessante, nao era do meu agrado. Voluntariosa essa aspirante a voluntária... Tinha até uns "jobs" onde se ganhava um dinheirinho, mas eu nao estava querendo ganhar dinheiro, queria fazer uma boa obra, sacas? Fiquei chateada porque já havia passado uma semana e nao havia encontrado ainda um lugar pra fazer meu trabalhinho voluntário. Se eu estivesse em Manaus essa procura nao duraria nem um dia! Mas aqui é tudo mais complicado. Entao chegaram dias tristinhos. Eu estava tao cabisbaixa que nem com Deus estava falando direito. Só fazia olhar pro céu, ...