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Do dia a dia em tempos difíceis

O jardim tem sido meu lugar de terapia. Mexer com terra, podar, regar, adubar. Para cada planta, uma necessidade e um tempo diferente. Como tem sido proveitosos esses momentos no quintal! Não canso de agradecer a Deus por Ele nos ter colocado nesta casa antes da pandemia. Ter duas crianças presas em um apartamento sem poder movimentar-se e tomar sol, deve mesmo ser dureza. E o jardim tem se revelado uma caixinha de surpresas pra mim, que nunca tive um aqui e jamais, para ser sincera, havia notado as loucas mudanças que ocorrem dentro dele. É muito incrível perceber uma nova planta que surge do nada, florescendo com belas flores, quando nada, absolutamente nada, se via antes. O inverno cobre com seu manto frio, escondendo tudo e dando a impressao de mortificação. A primavera tira algumas camadas, o verao outras... e a cada mês temos um jardim diferente. Vivo! Isso é quase mágico...
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Tenho um aplicativo maravilhoso no meu celular, o Picture This. Fotografo uma planta que não conheço e o app mostra seu nome e os cuidados que ela precisa. Que coisa sensacional! Não tem obviamente cem por cento de acerto, mas tem sido uma grande mão na roda!
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E tem também um outro aplicativo estranho para tempos estranhos. Meu marido todo empolgado falou pra eu baixá-lo. Eu perguntei do que se tratava e ouvi chocada a resposta: Um app que me mostra se alguém está infectado com o tal do corona virus? Não, obrigada! Não quero! Não quero viver desesperada, paranóica, não quero viver fugindo das pessoas, não quero olhar estranho e com medo para alguém na rua. Estão desenvolvendo esse tal aplicativo e aonde uma coisa dessas vai parar? Vai ficar apitando na minha bolsa quando entender que alguém doente está se aproximando? E se der problema e apitar para alguém saudável? E quando essa pessoa apitada for eu? Para qual direção a humanidade está seguindo? Não quero voluntariamente, manter distantanciamento de ninguém! Desculpa, mas não acho isso correto... já basta o que nos é imposto!
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E ainda falam em preconceito! Eu hein!
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E falando em coisa estranha, olha mais essa. Poucas semanas atrás, a escola do meu filho nos mandou vários papéis com mil regrinhas: turma separada em dois grupos que nunca se encontram na sala; uso de máscara para alguns momentos; higienização quase paranóica das mãos; dias alternados de aulas; distanciamento de 1m50 de todos, etc, etc, etc. Tinha até um documento onde a criança prometia "nao tocar em nenhum ser humano"! Veja! Não tocar noutro ser humano!
Mas aí, passados poucos dias, recebemos um novo plano de aulas, que vigora a partir de hoje, com horários de aula quase que exatamente como antes de toda a pandemia, com todos os alunos juntos novamente na sala, sentadinhos um perto do outro como antigamente, podendo brincar juntos no pátio na hora do recreio e sem problema agora em tocar ou não num outro ser humano.

Quando digo que tem muita coisa estranha nisso tudo, meu marido diz que exagero... mas dessa vez, até ele levantou as anteninhas.
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Outro dia, ao sentar num banco de praça, com um copo de café e um embrulho de uma padaria na mão, um senhor cheio de luvas e máscara começou a conversar comigo, me alertando num tom severo: 
- Não toque no seu alimento! As pessoas são burras...
Cortei a sua fala quando, ao segurar meu croissant, o toquei com o papel do embrulho, assim como nós, brasileiros, fazemos. (Sim, meu povo, o europeu é nojentinho e não vê mal algum em pegar tudo com a mão suja). Ele disse que brasileiros entendem das coisas, mas que nosso presidente é um  estúpido. Eu disse a ele para não acreditar em tudo o que a mídia fala, e ele me respondeu: 
- Eu já ia falar isso pra você! Acho até que seu presidente pode ser uma boa pessoa, mas a imprensa só fala mal. Sabe? Não vejo mais TV, só leio pela internet as notícias. 

Ele não sabe, mas não vejo TV há mais de vinte anos! 

O velhinho era todo embaraçado e misturava tudo:
- Ah, e eu odeio o partido verde e detesto a Merkel. Disse ele. Eu perguntei o porquê. No que ele respondeu: 
- Ela abriu o seu governo para os de extrema direita. Eu sou de direita, mas não extremado.  
E ficou feliz em saber que eu sou de direita também. Depois emendou falando que ama o Brasil: 
- E sou amigo dos indios! Um dia, nos anos de 1960 saí com uma placa no meu carro, numa manifestação, falando sobre os índios brasileiros. 
- Eu também os amo, disse eu. Tenho sangue indígena correndo aqui, ó.
- Oh, que bom! disse o velhinho, confuso mas sabido:
- Mas eu acho que como alemão, temos uma dívida com Israel. Não com os árabes! Como pode Angela Merkel abrir as fronteiras para os mulçumanos sem nem mesmo pedir documentos? 
Entre outras coisas, disse a ele que o compreendia e me identifiquei como cristã. No que ele disse, sorrindo: - Claro, brasileira e cristã. Combinam.

Ao correr para pegar o seu bonde, gritou de lá: 
- Mantenha sempre firme o seu bom humor!

É isso. Mantendo o bom humor em tempos difíceis. 
E acrescento: a fé.



Comentários

  1. Nina amo seus textos. Nos traz paz. Na sua última fala, você falou Fé. Nossa sem essa palavra tão pequena não conseguiríamos viver nesse mundo tão horrível. Somente confiando em Deus para sobrevivermos nessa pandemia e em tantas outras que virão.

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    1. Obrigada!
      Realmente, é a fé em Deus e a paz de Cristo que nos sustentam <3

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  2. Realmente são tempos estranhos!! Deus nos guie em tudo!!! Beijos Nina!

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  3. Oi, Nina querida!
    Primeiramente devo lhe dizer que fizeram uma escolha certeira indo morar em uma casa com jardim. Eu sempre curti o meu e a minha casa, não penso nunca mais morar num apartamento na vida, agora então, como agradeço por ter terreno para caminhar todos os dias neste inverno ensolarado que está fazendo. O jardim guarda segredos e surpresas para cada novo dia, só temos que observá-lo sempre. A natureza nos salva, assim como a poesia e a fé. Quanto ao resto, política, políticos, povos, atos, pandemia e vírus ... orbitam hoje à minha volta, mas continuo firme na minha disposição de saber no que acredito e como me cuido. Cuidem-se bem também e fiquem com Deus! beijos

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    1. Oi Bethinha!
      Sim, morar numa casa é mesmo maravilhoso, nao tem nem comparacao com um apartamento, mesmo que ele seja ótimo. Nada como abrir a porta de casa e pisar no chao, nem necessidade de escadas e elevadores. Isso era o que eu mais sentia falta :-)
      Bjs!

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  4. Nina, como é um bálsamo te ler.

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