Uns dias atrás li no facebook da Dani um texto que falava em como identificar que você está morando há muito tempo na Alemanha. Um dos itens da lista era: você já nao come mais o pao francês como um sanduíche, mas em partes separadas. Engracado que esse é um dos pontos que mais me chama a atencao. Eu já nao consigo comer o pao francês p. ex., partido ao meio, com um pedaco de queijo, fechar e abocanhar, mas sim como o alemao come, ou seja, cortado ao meio, entao numa banda come-se sei lá, uma fatia de queijo, na outra geléia, ou um presunto e claro, come-se as partes separadas. Nos meus primeiros dias aqui, estranhei muito, mas com o passar do tempo entendi que assim, sente-se muito melhor os sabores e nao fica aquele monte de massa na sua boca.
A lista da Dani me fez lembrar de algumas coisas também. Em como a Alemanha me mudou. Lembro muito na questao do pensar no outro, bem mais do que eu pensava no Brasil. Aqui eles tem um senso de respeito ao indivíduo muito mais agucado que nós, brasileiros. É certo que o individualismo é maior, e talvez por isso mesmo, o respeito ao espaco que o outro ocupa é importante. Isso tem um lado bom e um ruim, os contatos entre as pessoas de certo, sao menores, mas você se sente seguro de que ninguém vai ficar te incomodando. Ao mesmo tempo que esse respeito ao outro te afasta ele também te protege. Pode ser visto na rua, por exemplo, quando seguramos a porta ao entrar num prédio, numa loja grande, enfim, para a próxima pessoa atrás de nós. As portas aqui, por causa do inverno, sao bem pesadas e tem um sistema de roldana, ou pressao, que as faz fechar com violência, entao, é gentil segurar a porta para a pessoa que vem atrás de você. Igualmente algo que mostra a educacao e respeito às pessoas é manter a porta do elevador aberta pra quem vem atrasado, ajudar uma mae com carrinho de bebê ou um velhinho com seu carrinho que tenta subir num bonde ou descer uma escada, falar Hallo! quando se chega e Ciao! quando sai, independente se você conhece ou nao a pessoa, agradecer sempre, pedir licenca sempre. Esperar sempre o sinal de pedestre ficar verde ao atravessar na faixa. Ninguém vai cuspir no chao, "ninguém" vai jogar na rua suas sujeiras... Falar seu nome ao atender o telefone e quando ligar pra alguém, se identificar logo no início, esperar um funcionário atender cada pessoa separadamente, etc, etc.
Mas o individualismo também tem seu lado negativo: pessoas sao muito sozinhas, velhinhos vivem sós em casa, as pessoas nao oferecem lugar ao idoso nos transportes coletivos, e ninguém dá seu lugar numa fila a uma grávida ou idoso, nem mesmo fila exclusiva pra velhinhos existe. Isso tem a ver também com o fato de essas pessoas fazerem questao de mostrar o quanto sao independentes e nao precisam da ajuda de ninguém. As pessoas que querem ajudar ficam sempre com receio: devo ajudar ou nao? É sempre complicado mas eu tento sempre. As reacoes costumam ser sempre positivas.
A Alemanha me mudou também na forma como vejo meu lar, ele é uma extensao das nossas vidas e temos gosto em mantê-lo agradável aos olhos. Acredito que por vivermos mais ou menos "isolados" aprendemos e temos muito prazer em preparar a casa para uma visita, por exemplo. Ninguém nos visita sem avisar, entao, temos tempo de receber com carinho e com casa limpa. Isso é bom.
A Alemanha também me ensinou a ser muito mais simples, a dar muito mais valor a dias de sol do que às marcas caras de roupas. A me aceitar como sou e ver muita beleza em mim mesma.
Mas o que mais me mudou aqui foi aprender a falar a verdade. Já falei sobre isso aqui, mas nunca é demais elogiar o jeito sincero do alemao de ser. Eles nao fazem rodeio e você tem facilidade em lidar com as pessoas, nao precisa ter medo de ofender, porque alemao é bichinho forte e aguenta críticas, mas esteja preparado pra também recebê-las. Se um alemao diz que vai encontrar com você tal dia, ele estará lá pontualmente, nao existe isso de "ahh vamos marcar qualquer dia desses pra tomar um café": ele vai logo abrindo a agenda e marcando o dia. Sim, alemao é seco, é duro, é bem verdade, mas é bom saber com quem você esta lidando. Acho isso libertador. Você nao precisa ficar fazendo tipo...
gosto muito!
E você, que vive ou viveu fora? O que mudou?
Eu vivo dentro, mas mesmo assim vou opinar... rsrs
ResponderExcluirBem eu não acho que esse individulismo faça as pessoas ficarem mais sozinhas, eu moro no Brasil que é um país que todo mundo se mete em tudo e mesmo assim eu me matenho bastante isolada, quase uma eremita... rs. Mas é porque é do meu jeito ser assim, seria assim em qualquer país.
Claro que a cultura quando tende ao individualismo faz com que as pessoas se isolem mais, mas quem for de se enturmar, vai ter a sua turminha, pode ter certeza... rs
Quando ao resto acho que você tem total razão. Eu gostaria muito de viver em um país assim, já te disse isso em outras oportunidades. Não me identifico muito com o jeito de ser do brasileiro.
Beijocas
Nina, é interessante ver o bom de estar fora e saber valorizar o que tem de bom e melhor daqui, por lá!
ResponderExcluirIsso ajuda e facilita a aguentar as saudades,né? beijos,lindo dia
Ah Nina! Isso, esse respeito pelo espaço alheio é o me encanta na Europa, como um todo. Sabes que vivi fora dois anos (não consecutivos) e os hábitos mudam e se era aquele sentimento de liberdade que você estava procurando... é o céu, minha amiga. O Rio, há muito, virou a Torre de Babel. Você não vai até o barulho. Ele vem até você. Quer goste ou não. Também eu senti esse esmero, de que falas, pela nossa casa. Como os meses de frio são muito mais longos dos que os de Verão, as pessoas curtem mais a casa, há mais aconchego. Dificilmente o teu vizinho irá colocar o rádio numa altura que você não consiga ouvir seus próprios pensamentos. Nesse ponto, o que chamam de "alegria dos brasileiros" eu chamo falta de educação. Então se a pergunta é o que mudei quando vivi fora? Mudei a maneira de respirar. Era sempre calma porque sabia que nada viria me incomodar sem que eu permitisse. Simples assim, querida Nina.
ResponderExcluirBeijos e tô indo para lá.
Ninoca,
ResponderExcluirLindo o seu texto... A Gisley escreveu uma vez que poucas experiências nos mudam tanto quando a de morar num outro país. Eu concordo.
Sabe que esse hábito de dividir o pão e comê-lo pelas metades eu não reparei enquanto morei na Alemanha?
Lembro-me bem de cortar o pão ao meio para colocar 2 Bratwürste no meio :)
A simplicidade que você mencionou me tocou muito na Alemanha. Reparei isso muito nos casamentos aos quais compareci. Eles não tinham a pompa que costumo ver no Brasil, mas tinham uma sinceridade simples que era tão bonita! As noivas escreviam os menus à mão, os pais discursavam, os amigos faziam apresentações com fotos do noivo e da noiva... Tão diferente, tão carinhoso...
A Alemanha me mudou em tantos aspectos também... Ainda é difícil pra mim falar sobre essas mudanças, mas um dia eu tomo força e escrevo sobre elas.
Beijos querida!
Márcia
Oi Nina, lindo o seu texto! Acho que a Alemanha me mudou muito no quesito pontualidade. Hoje faço questão de ser pontual, coisa que antigamente eu não era. Hoje até me irrito quando alguém me deixa esperando. Hoje em dia também eu sou mais direta, não faço muito arrodeio ao falar e tomar decisões, acho que o jeito sincero e direto do meu namorado fez com que eu me tornasse mais parecida com ele. Eu considero isso mudanças bem positivas! Um grande beijo
ResponderExcluirAna
Oi Nina!
ResponderExcluirAcho que tem muitas coisas que os suecos tem em comum com os alemães e eu concordo de cabo a rabo contigo com relação a que é um alívio não ter de fazer "tipo" com ninguém. Na filosofia "deles"(se é que eu posso colocar assim) quem não chora não mama: seja direto a respeito do que quer!
Morar fora de país mudou a minha concepção do mundo também no que diz respeito aos bicho papões da humanidade (que para mim eram apenas os EUA), tenho maior consciência política e do meu dever como cidadã, não brasileira ou quase sueca, mas do mundo.
Abraços!
Recebi mail. Obrigada e Feliz Natal!
ResponderExcluirO olhar de dentro é o que mais clareia a visão de fora.Só vivendo a experiência pra podermos opinar com nitidez conforme vc o fez neste ótimo texto, Nina.
ResponderExcluirTenho além de visto, sabido disto pelas ações e palavras de minha filha.
Uma das melhores coisas é esse respeito nato pelo direito do outro em todos os aspectos, ao bem público,à vida e aos laços familiares.
Realmente as discrepâncias com nosso país são abissais.Quem sabe com mais uns séculos de existência consigamos chegar a este patamar de civilidade.
Bjos e boa semana.
Calu
Olha eu não mudei muito, pois sou do Sul e lá tem muita coisa parecida, tipo: horário, organização, transporte e etc....
ResponderExcluirO que eu mudei foi algo que vem de familia, tipo: Deixar a mesa linda maravilhosa para receber os amigos ou até mesmo a familia...Na minha casa nunca foi assim e quando cheguei aqui achei isso tão lindo que nunca mais deixei de fazer...E mostrei o quanto é bonito pras minhas irmãs que de vez em quando fazem.
A dar valor a cada centavo, dar valor no dinheiro, tipo: Não interessa se custou R$1,00 tem que ter valor, pois trabalhamos duro por esse dinheiro...
Sabe que você vale pelo seu trabalho e não pelo seu posto.
E faço minhas suas palavras sobre o individualismo...
É isso...
Bjosss...
Nina, a Suíça também me mudou muito!! Eu aprendi a ver o mundo de outra maneira. Aprendi a dar valor as coisas simples da vida, como um piquenique no lago ou uma caminhada nas montanhas. Aprendi a ser pontual e a gostar disso, a gostar que respeitem o meu tempo. Eu acho que os suíços são menos "duros" que os alemães, eles são diretos mas têm uma certa ternura. Tanto que os suíços reclamam dos alemães que moram aqui, exatamente por eles serem tão diretos!! Bjs
ResponderExcluirMuda, sim, nina, e de muitas formas, e nem me atrevo a atribuir valor positivo ou negativo, já passei desse limiar. Estou/estamos diferentes do que éramos. Talvez a mudança seja acelerada pelo fato de estarmos imersos em outra cultura, mas a mudança sempre vem. E que bom se for pra melhor, como tantos disseram aqui.
ResponderExcluirUma das coisas em que mudei o olhar e nao me vanglorio por isso é ver como a minha cidade, o Rio, está degradada. Como os governantes se importam tao pouco e respeitam tao pouco a populaçao. Aqui em Madrid há muitos bairros populares e periféricos, como em todas as grandes cidades, mas tem uma coisa muito diferente do Rio, é que as ruas têm o mesmo nível de limpeza e organizaçao que o centro e as áreas nobres residenciais. Tem jardins e parques para crianças e idosos, tem campos de esporte para a populaçao usar, tem piscinas limpíssimas e aquecidas por um preço super módico. Aqui, as pessoas são respeitadas nao porque pagam mais IPTU, mas porque vivem aqui e merecem respeito.
Há coisas mais prosaicas e divertidas, mais coloridas com certeza. Mas eu nao quero escrever um post no seu post, se bem que quase o fiz. Perdoa.
Beijinhos
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ResponderExcluirNina, que texto sincero. Adorei.
ResponderExcluirPosso levá-lo para o sleitores da Saia? Claro com os créditos para o "Entre mae e filha."
Eu ainda como o pao frances como antes. Detesto essa mania dos alemaes, sujam os dedos fica uma porcalhada e por isso ainda como, como antes.
Verdade, a gente fica mais verdadeira e sincera, até porque nao precisamos lutar para sobreviver. Eu creio que a luta no Brasil e o instinto de sobrevivência, pois precisamos lutar tanto pelo pao de cada dia que nao dá para sermos 100% sinceros. Até porque os padroes no Brasil sao outros e muitas das vezes quando vc conta a sua situacao, a pessoa de algum orgao nao aceita e ai vc tem que mentir para poder receber a tal da ajuda.
Tb gosto muito dessa coisa das pessoas segurarem as portas e eu faco isso e meus filhos tb. Assim como levantar do onibus e dar lugar para uma gravida ou alguém com idade.
Aqui, já se aprende nos livros da escola primeira a dizer: Obrigado e por favor. Achei isso o máximo. Minha mae qdo veio aqui disse assim: Ôxente, que historia é essa de vc dizer obrigada a teu filho porque ele te fez uma favor.
Tendeu amiga???
Bjos
Fabien nos acha hipocritas. Infelizmente me vejo fortemente tentada a concordar com ele.
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