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O dia em que fui conquistada por um gato

Nunca gostei de gatos. Sempre fui apaixonada por cachorros, gatos me davam arrepios. Tinha horror, verdadeiro pavor deles. Não suportava quando eles passavam a cauda pelas minhas pernas debaixo de uma mesa, por exemplo. Eu era uma "gatófoba" convicta! (se é que isso existe). 
Gatos: AME-OS OU DETESTE-OS!

Até que...

...um dia, há alguns anos, reencontrei um amigo alemão também eng florestal, no caminho de casa. Estava eu e minha motinha, passeando por uma rua de Itacoatiara, quando ele me pára: "Nina, quanto tempo". Conversamos rapidamente, ele e mais um amigo, dizem que minha moto é muito legal, fazem fotos e na hora do tchau ele me convida para ir com eles a uma pequena cidade no interior do Amazonas. Eu não pude aceitar porque tinha aulas em Manaus e faltar uma semana seria complicado. Me despeço, ligo a motinha e vamos eu e ela pra casa, sonhando com a cidadezinha que há muito tempo gostaria de conhecer, pois lá eles trabalham com Manejo Florestal Comunitário, algo que muito me interessa. Chego em casa e o pai dos meninos fala: "vai, boba!"

Só queria um empurrãozinho. Arrumo às pressas a mochila com o kit básico de sobrevivência na selva (absorventes femininos, maiô pra tomar banho no rio, repelente, creme pra acalmar a floresta que é o cabelo da índia aqui, lanterna, alguns livros), dou um abraço nas crianças e em pouco tempo, chega em casa um táxi velho com meu amigo dentro: "tchau filhinhos, mamãe volta logo!"

No rio, numa pequena lancha amazonense (voadeira) três outros alemães e um piloto me aguardam: "hallo, hello! oi!" vamos embora. No caminho, paramos pra ver os botos pulando nas águas do rio Amazonas, fotos, estrangeiros fascinados, e quatro horas depois (seriam oito se fôssemos de barco normal), chegamos no vilarejo. Boa Vista do Ramos.
Eu, quatro homens e muita mochila. Dos rapazes, só um fala português, dois inglês, e um somente alemão, e eu com um dicionário em alemão "dabei "(junto) numa época que não sabia nem pra onde ia esse idioma.

Passamos por alguns lugares, conhecemos algumas pessoas na cidade e pegamos um outro barco, em direção a um outro vilarejo, bem no meio da floresta. Depois de quase uma hora, chegamos ao nosso destino. Um homem veio nos dar as boas vindas. Alto, moreno, cabelos cacheados, longos, sotaque carioca, pintado com tinta indígena no rosto. Fernando foi logo no início muito simpático e ficou surpreso ao ver uma mulher entre os homens.

Apresentações feitas e devidas traduções realizadas, ele nos avisa que em breve conheceremos o Onça e que precisamos ter muito cuidado, pois ele é perigoso e esperto, bicho bravo, guerreiro, corajoso como seu pai Jacaré foi. Eu já estava comecando a ficar assustada com aquele papo, "oohh meu Deus, uma onça perigosa!" Quando começamos a subir do barco para a casa do Fernando, vejo um vulto preto, passando correndo de um lado pra o outro, antes já tinha visto muitas penas de passarinhos no caminho, e gotinhas de sangue. O vulto sobe e desce muito rapidamente as árvores e vem parar nas pernas de Fernando. O tal Onça era um gato! Preto, grande, bonito. O bicho que eu mais tinha asco.

Oohh Senhor, eu ficaria na mesma casa por cinco dias com um gato! Numa casa no meio da floresta, coberta de árvores, cercada por rio, onde o mais perto vizinho estava a muitos quilômetros de distância. Eu, homens e um gato, oohh não! Senti vontade de naquele mesmo instante pegar o barco de volta e ir pra casa, mas não podia desistir assim tão rapidamente... e foi disfarçando meu medo, nojo e meus grandes problemas com gatos, que entrei na casa do Fernando. 

Aliás, uma casa muito fofa! Altamente aconchegante pra uma casa na floresta, de madeira, quase sem paredes, aberta, refrescante, sem portas; quando chovia, a água reservada era utilizada pra tudo, a eletricidade vinha da luz solar, permacultura é o nome do que ele e sua esposa (que estava viajando naqueles dias) faziam, tudo perfeito, com excecão daquele Onça.

Quando sentávamos no chão pra falarmos sobre o trabalho que iríamos fazer ali, o Onça vinha pra perto de mim, lentamente. Ele sabia que eu não gostava dele e não queria contato. Mas, eu não podia simplesmente dizer ao nosso tão simpático anfitreão, "olha sabe o que é? O seu gato, sabe, eu não gosto dele não, entende?! Na verdade, odeio seu gato!"

Mas o Onça que era filho do Jacaré, que havia lutado com o Pantera e vencido, era um bichinho muito inteligente e perspicaz, tinha uma história de luta pela vida muito bonita e era bem espertinho. E era com muita delicadeza que ia devagar se aproximando de mim. Eu olhava com o olho esquerdo pra pessoa que conversava comigo e com o direito pro Onça chegando de mansinho. E cada momento, um pouco mais perto, e um pouco mais, e cada vez, um pouquinho mais perto. Até que ele conseguiu um leve roçar da minha mão assustada na sua cabecinha, que me fez arrepiar de nojo. Mas eu tinha que ser gentil com Fernando e com seu gato.

Bastaram algumas tentativas do Onça pra que eu me desarmasse! Os dias que se seguiram depois do primeiro assustador encontro, foram muito agradáveis, até sentia falta do Onça quando ele saía para suas aventuras na mata. Ele voltava todo fim de tarde pra casa, e ficava no meu colo, ronronando de olhinhos fechados, enquanto eu fazia carinho no seu pêlo macio e brilhante. Quando íamos tomar banho no rio, com peixinhos coloridos rodeando nossos pés, ou lavar as nossas roupas com o rio batendo nas nossas cinturas, mesmo tendo um lugar pra essa atividade, era de longe que o Onça nos acompanhava. Mas quando íamos pra floresta, observar as abelhas do Fernando, ele ia junto e se exibia pelos caminhos entre as árvores.

Foi com verdadeira tristeza que me despedi do Onça na hora de partir de volta pra casa.

Depois desse encontro, resolvi ouvir a Laura e o João que sempre quiseram ter um gatinho, além dos cachorrinhos, periquitinhos, papagaios e peixinhos que sempre tiveram por perto. Então, aceitei a presença do siamês Luke Volverine na nossa família!

* * *

Moral da longa história: nada é sempre tão ruim quanto parece ser inicialmente :)

Comentários

  1. Eu sempre tive cães e continuo a adorá-los. Até ao dia que conheci a minha Maria de olho azul, abandonada e maltratada na estrada. Foi amor eterno. Poucos animais são tão parecidos connosco na independência, inteligência e na sensualidade como o gato.
    Ah e não fomos nós que o domesticamos, ele é que se deixou domesticar por nós, quanto soube que tínhamos comida.

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  2. Nina, que legal isso de viver na floresta por 5 dias!
    Como quero ser bióloga, pretendo fazer isso um dia também.
    Quanto ao onça, gostei do nome, mas não gosto muito de gatos! Deve ser porque não conheço ele né?!

    Beijos*

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  3. ... por razoes de saude da minha irma, eu nunca tive animais em casa... agora que eu vivo sozinha, também gostaria de ser conquistada!

    Beijo meu ♥,

    A Elite

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  4. UAU!Quanta história!Nina,sou completamente apaixonada por gatos,às vezes penso que minha vida sem eles não seria a mesma coisa.Hoje cedo,acordei morrendo de vontade de postar sobre o James Paul McCartney,meu gatinho que fugiu no iníco do ano(lembra-se?).Senti uma falta tão grande dele que me deu até uma dorzinha no coração.

    Adorei o lugar que você descreveu,e adorei mais ainda saber que o Onça conseguiu tocar seu coração e fazer você perceber o quanto gatos são legais.Li um artigo em Seleções sobre isso que estou enrolando para colocar no blog,mas nem sei onde está a revista.Enfim,gatos são DEMAIS!

    Puuuuuuutz,obrigada mesmo por ter ouvido Panic At The Disco!Sou apaixonada por eles,mas odiava.Acabei fazendo um monte de gente começar a ouvir com carinho(Klô,minha mãe,Thiago),e não vou parar!São muito especiais para mim.

    A música que você colocou aí,não tocou de maneira alguma!Essa idéia é boa,vou colocar algumas músicas também para vocês entenderem o que ando ouvindo.

    Abraços e felicidades!

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  5. Nina, também nunca gostei muito de gatos, mas sempre simpatizei de longe com os danados.
    Sempre fui muito cachorreira(inventando palavras), sempre tive um ou mais na minha vida.
    Hoje em dia tenho uma viralata medonha de feia e chata que dói, mas é meu xodó, tudo bem que ela colocou na cabecinha dela que eu não sou mais a dona dela e sim a Fabi, criando um mal-estar entre as irmãs hahahahah
    O Caio é louco por gatos, mas louco mesmo, do tipo de pegar gatinho "pestiado" no colo e falar que ele é lindo.
    A Amanda também teve uma fase assim de pegar gatinhos "pulguentos e pestiados" e ficar com eles no colo até enlouquecer o pai dela...

    Beijins com felicidades:)

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  6. Nina... não tenho muito afinidade com gatos e cachorro acredita que depois que minha cadelinha morreu (e eu ainda era uma criança) sofri tanto que não consegui mais me apegar e mais já fui mordida por tres cachorros e hoje morro de medo deles.
    Forte abraço sempre.

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  7. Nina, "acho" que eu sou uma pessoa de cães. Mas tb não me incomodo com gatos (desde que não na minha casa).

    Mas sua moral no final eu não compro não. Algumas coisas são muito ruins de fato. Vou ficar no basico e dizer cebola, ta?

    Beijo!

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  8. Oi, Nina!

    Minha primeira vez no seu blog. Estou adorando conhecer o seu cantinho!

    Que linda essa sua história com o Onça e agora com o Luke, né?!

    Como diz uma amiga minha: cães têm donos, gatos têm equipe de apoio. hehehe...

    Beijos e sucesso!!!

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  9. Oia Nina, eu tbm nao gosto e nao sou chegada a gato nao.... mas acabei mudando um pouco a opniao tbm, e muitoooo similar a sua! kkkkk
    Eu tbm tenho um amigo Fernando, que mora em SP, e ano passado tive que ir em SP e fiquei 10 dias na casa (apartamento) dele, com a presenca de 2 gatos, Ioda e Anaquim... nos primeiros dias eu tinha verdadeira aversao, mas nos ultimos eu ja estava tao acostumada que ate carinho eu fazia! kkkkkkkkkkkk
    Mas gato e um bixinho espperto ne?!
    Agora que a familia ta completa mesmo! Adoro animaizinhos assim!
    E sua profissao e genial, adorei! Engenheira Florestal, acho super demais! Deve ser sempre uma vida de aventuras, que eu amoooo....adoro esse contato com a natureza. Acho que isso vem do meu pai, que e veterinario e sempre trabalhou em fazenda, ele diz que nao aguentaria trabalhar com burocracias, clinicas ou lugares fechados... ele sempre trabalhou em lugares para andar pela natureza... e uma profissao linda, mas que pede muito de vc!

    Enfim, o lance de vc ir "sozinha" para a floresta ficar 5 dias, mostra o qto vc e uma mulher que transcede! Adoro isso! Uma inidia moderna! heheheheheh

    bjooo Nina menina india linda!

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  10. Ahh eu tbm tive um onibus escolar, era sempre divertido levar cada um na sua casa, se despedir, ate chegar na sua! O motorista tinha o apelido de Jilo...ehehehe... pq ele nao tinha bom humor, mas com o tempo ele mudou, fazia algumas piadinhas, e isso mostra que a docura das criancas pode ser capaz de contagiar os ambientes.

    Adoro suas cronicas!! Que sabe um dia nao se torna livro?! hummm?
    Eu quero!!\o/

    bjuss

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  11. Ai, Nina, quem um dia eu possa escrever um post assim...tenho pavor de gato!!!!
    Fui dormir na casa do meu irmão, fiquei com tanto medo da gatinha da minha cunhada, que tive que dormir no quarto deles, háháhá.
    Bjus.
    Estava com uma saudade...

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  12. Olá querida Nina... eu tmb tive prazer de conhecer os trabalhos realizados no município de BVR, inclusive o do Fernando, com as abelhas sem ferrão... Tmb fui em sua casa, adorei aquilo alí, tinha inclusive "meia quadra" de basquete, lembra??? Qto a "Onça", o Fernando sempre contava algumas histórias que incluiam "Jacaré" tmb... Um grande abraço, bjos!!!!

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  13. Oi Nina,
    Espero sinceramente que essa paixao também aconteca comigo, porque namorido adora gatos e já está tentando me convencer de termos dois e eu... bem, eu sou que nem você era antes de conhecer a super Onça, hehehe (cachorros, amo cachorros. Mas, gatos, oh, well...).
    E, quantas aventuras, hem? Rio, barco, no meio da floresta! Que cenário show para milhares de aventuras :o)
    Beijo grande,
    Angie

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  14. Menininha, muito bonita a sua história, viu, mas eu continuo não gostando de gatos. Nem por foto. rsrsrs.

    Bjux querida!

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  15. Juli, é mesmo, nem lembrava disso, tu conheceu o Fernando, cara! legal demais aquele figura né?

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