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Majô

Recebi o telefonema de uma amiga que estudou comigo ano passado num cursinho de alemão. Desde que estive no Brasil em julho do ano passado, nós não nos falamos. Foi ótimo ter notícias, combinamos de nos encontrar, soubemos como anda a vida uma da outra, enfim.
Minha amiga se chama Majolie, é africana de Camaroes, linda, extravagante, sorridente, sempre muitíssimo bom astral, divertida, mãe de quatro filhas.

Majolie sempre foi uma mulher muito batalhadora, e apesar de tantos problemas, você olha pra ela e só consegue rir junto. A gente saia nas ruas e todos olhavam pra ela, com suas cores da Àfrica e sorriso nos lábios, pronta pra falar algo engraçado onde quer que fôssemos. Majolie coloria as ruas cinzas e frias do inverno daqui. Mas ontem vi uma Majolie, que apesar de sorridente e alegre como sempre, um tanto preocupada. Vi que a Majo sorri pela grande força que ela tem, mas que esse sorriso esconde muitas dificuldades. Minha querida Majo, virou avó há duas semanas! A sua filha mais velha, que deve ser mais velha que minha filha Laura apenas um ou dois anos, engravidou, e a mãe não sabia. Há alguns dias foi chamada no hospital, porque a filha teve um bebê e com medo de perder aulas e um objetivo maior que era fazer um curso técnico, pensou em matar o bebê.

Majolie, que é guerreira desde sempre, se viu em desespero e pediu que a filha continuasse os estudos, que botasse juizo na cabeça e deixasse o bebê com ela. Agora estão todos na mesma casa, pelo que entendi (ainda não nos encontramos pessoalmente pra nos entendermos melhor, nosso alemão não é lá grande coisa, ela fala francês e eu português, ambas falamos um alemão safado, então já viu né?).
Mas, olha que coisa. Uma menina grávida! Uma menina que não sabe nada da vida ainda. Sem preparação alguma pra ser mãe. Ela tem sorte de ter a mãe que tem, que a apoiou, e muitas não têm isso. Ao ao telefone, Majô, me pergutou sem eu dizer nada: „me diz Nina,o que mais eu poderia fazer se não ajudar minha filha??“ Eu acho claro, que ela fez a coisa certa, mas acho que ela própria se culpa por ter sido benevolente com a filha, ou talvez Majô tenha ouvido muita coisa negativa a respeito do seu ato em ajudar a filha que errou.

Quem errou e quem não erra?
Mas, eita errinho difícil de ser consertado, hein?!
Laura comentou que uma colega está gravida. 16 anos. Grávida. No Brasil, são tantas meninas, crianças, grávidas. Lembro que minha amiga Josi, assistente social que trabalha num hospital, certa vez me falou que uma menina de 10 anos tinha dado entrada na maternidade. 10 anos!!
meu Deus, o que está acontecendo com nossas crianças?

Onde está o erro? Onde foi que erramos tanto como pais?
Conversando com Laura ontem, ela comentou ser grata por ter informação suficente pra evitar tal situação, claro que fico feliz em saber que minha filha se sente informada, mas também sei que muitas dessas meninas têm também acesso a informação, elas sabem que existem mil tipos diferentes de anticoncepcionais, que é preciso usar a camisinha, não só pra evitar gravidez indesejada como também doenças venéreas, mas o que lhes falta não é informação, é JUIZO! Na hora tudo é muito bem, é muito bom, mas e depois?

Como fica a cabeça de uma menina que precisa parar tudo na sua vida fácil de criança, pra trocar fraldas? Dar de mamar? Acordar de madrugada pra olhar o filho que chora? Educar esse filho?
E o que mais me interessa é, que tipo de criança será essa? Que tipo de adulto ele se transformará? Ela não teve base, veio ao mundo sem querer. Ele teve um pai menino (isso quando tem a sorte de ter o pai por perto), e uma mãe que ainda brincava de boneca quando ele veio ao mundo... e o pior é que talvez essa pessoa nascida em tais circunstâncias ainda ouça dos próprios pais que ele teve culpa por eles terem parado os estudos, ou algo do tipo.

Se até os pais que são muito esforçados em dar o melhor a seus filhos, têm tantos problemas, dá pra imaginar o que passam esses pais tão novos e despreparados.

Simplesmente preocupante.

Comentários

  1. Esse problema, da gravidez na adolescência, devia ser prioritário nos países do terceiro mundo, onde esses flagelo é enorme.
    Na Europa também acontece, aliás Portugal é dos países da Comunidade Europeias com uma das maiores taxas de grávidas adolescentes.

    Não sei se se poderá falar de culpa. E se falarmos dela, tera´que ser de todos: dos jovens, dos pais, dos educadores, dos governos, da sociedade em geral.

    Também tenho uma filha e falo-lhe de tudo. Se lhe acontecer o mesmo não será nunca por falta de atenção ou de informação.

    Complicado, Nina.
    Bem vinda de volta e agora veja se fica!
    Beijinhos de Lisboa, está muito bom o tempo por aqui.

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  2. Ai Nina como esse assunto me deixa com lágrimas nos olhos, devo ter passado por algo assim em outra vida...
    Sofro tanto, quando eu era menina uma colega minha na sexta série ficou grávida do pai... Veja só você. Do pai... Isso foi em 85 na época eu tinha 12 anos, e até hoje ainda não superei isso.
    Minha mãe, que sempre foi muito visionária, falava abertamente das questões de sexo comigo e com meus irmãos, aparecia a oportunidade e ela logo puxava o assunto. Resultado, eu era tão bem resolvida com a teoria que comecei a "prática" tarde, não via a necessidade.
    Não gosto de pensar na gravidez de adolescente como um erro, principalmente da mãe, que infelizmente não consegue ver tudo o que os filhos fazem, mas sim como um acidente de percurso que vai tornar tudo um pouco mais duro mas também mais bonito...
    Isso aqui tá parecendo um post...
    Esse assunto mexe demais comigo.

    Beijins Nina Menina

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  3. Muita gente tem a mania de culpar os pais por tudo que acontece com os filhos, o que eu acho um erro. Somos seres individuais.
    Acho também que não é falta de informação,porque hoje em dia a maioria das pessoas tem informação sim.
    Claro que nisso tudo pode faltar uma conversa aberta com os pais, falar sobre sexo naturalmente,mas isso não significa que a pessoa ficará grávida.
    Tenho uma amiga que até hoje nunca conversou sobre sexo com a mãe e nem por isso ficou grávida.
    Acho que na hora do "bem bom" algumas pessoas não devem pensar na prevenção e também tem o homem que muitas vezes pressiona a mulher para não usar camisinha e ela acaba caindo na ladainha do cara.
    Sei lá, esse assunto é muito difícil...
    O mais triste de tudo isso é que uma família acaba sendo corrompida, a vida dessa menina jamais será a mesma e ela não poderá curtir como uma adolescente normal. Muito triste mesmo.
    A única coisa boa é que aí vem uma nova vida que enche o coração de todos de esperança e amor.
    Ah! Nina, não estou insatisfeita não, é só uma fase que ainda não me adaptei.
    Beijooos

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  4. Nina,situação complicadíssima!Acredito que sua amiga fez o correto.O que mais ela poderia ter feito?Condenar essa criança a ter uma vida horrível,com uma mãe despreparada para criá-la?O complicado é a filha,que deve estar com a cabeça girando!Não sei se é desinformação,irresponsabilidade ou os dois.Sua amiga deve estar sofrendo muito,vou orar por ela.
    No outro dia,também postei sobre gravidez precoce,sobre o quanto me assusta ver crianças cuidando de outras e,principalmente sobre quanto fico atônita ao ver que as pessoas estão passando a achar essa situação normal,quando não é!De acordo com meus comentários e com seu post de hoje,percebo que não estou sozinha ao julgar isso como uma aberração que deve ser combatida.E isso me deixa muito,muito,muito feliz!
    Me dá uma vontade enorme de consertar o mundo,mas logo depois vem uma sensação de impotência fortíssima.Mas mudar uma pessoa já é mudar o mundo.E se eu conseguir conscientizar uma menina que seja de que não vale a pena destruir seus sonhos por uma alegria passageira,já estarei satisfeita!Mas,o que mais me comove são as crianças que vêm dessas irresponsabilidades.Me dá um aperto no coração,é horrível!
    Beijos! ;*****

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  5. Nina,to passando pra dizer que talvez a locução que vc escutou não seja a minha. Colocaram a voz da locutora oficial do banco :S
    Mas um dia vc vai ouvir de pertinho minha voz, vc vai ver! ^^

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  6. Oi Nina, sou Amanda, sobrinha da Sônia...pois é, uma colega minha de 13 anos também tá gravida....ainda bem que eu pelo menos nem penso nisso tão cedo, pelo menos nao agora!
    O problema não é só o bebê, muda tudo na vida da pessoa!
    Bom, mas aí é como você mesmo falou né?! JUÍZO...
    Beeijos'

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  7. Nina... voce sabe sou mãe solteira e posso dizer que apesar de que não era mais uma adolescente assim mesmo foi bem difícil... mas graças a Deus consegui criar minha filha bem... Penso que por mais que exista informação é sempre imprevisível essa questão.
    Um forte abraço.

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  8. Nossa, quanto comentário bonito e informativo, amei a posição de todos aqui hoje, que ótimo. vou falar pra Majolie, viu meninas? obrigada.

    e Amanda, seja bem vinda querida, ja tinha visto vc no blog da Laurinha. Bom te ver aqui tbm.

    bjs a todos

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