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Uma brasileira

Não gosto de televisão. Quase nunca assisto TV, salvo alguns filmes (que amo!) fujo da TV o máximo que posso. Mas tem um programinha bobo que tá me pegando nessas últimas semanas. Um Reality Show, coisa que na verdade, nao curto. Odeio p. ex, Big Brother e aqui assim como ai no Brasil, deve estar bem na décima edicao.

O programa que estou mais ou menos acompanhando é o Germany Next Top Model. Bom, eu gosto do mundinho da moda. Desde menina, desenhava roupas e gosto muito de desfiles. Além de gostar da Heidi Klum, essa modelo alemã que é tudo de linda, tem o sorriso mais encantador da moda, e ainda é casada com o Seal, aquele maravilhoso!!


Na foto, a Heidi e as duas últimas vencedoras do programas passados, Barbara e Lena.


Mas quem estava me prendendo ao programa era uma certa concorrente chamada Gisele. Adivinha de onde? Acertou. Brasileira!

Sei lá, parece que o pai dela é alemão (aliás ela é cara dele!) e a mãe brasileira. Ela nasceu no Brasil, mas mora aqui há muitos anos. Posso até estar enganada porque não entendo muito bem o que ela diz, deve ter algum problema de fala. Acontece que a Gisele é ou era (porque ontem ela foi eliminada) a atração do programa. Saiu ontem porque comia muito chocolate e não fazia nenhum esporte, acabou engordando cerca de 11 quilos no programa. Dava pra ver o queixo duplo que se formava e a celulite nas coxas já roliças da mocinha.

Gente, a menina (tem 20 anos) é cômica! De tão estranha que ela é, acabou sendo a estrela do reality. Maior que a própria Heidi que apresenta o concurso.
A garota só dava fora. Um atrás do outro.
Meio bobinha, a Gisele vivia rindo, meio garotinha do papai, sabe? Fala fazendo biquinho, apesar de ter bocão! A voz sai de mansinho, parece um gato ronronando, é enjoada até dizer chega, atirada, vivia querendo beijar os modelos e era a primeira a levantar o dedo pra beijar os mesmos.Maluquinha e meio desengonçada, chegou longe essa menina. Acho que eram, sei lá, umas 20 e poucas concorrentes, já dentro do programa, fora as milhares que se candidataram, e ela só saiu do programa ontem, esteve entre as 5 finalistas, pois cada semana sai uma garota.


A Gisele não fez nenhuma amizade no decorrer do programa, estava sempre num cantinho, parece que as meninas não gostaram muito do jeito dela e ela não fazia o mínimo esforço pra se enturmar com o resto das garotas. Na verdade, ela tem mesmo um jeito estranho, ao mesmo tempo que age como uma menininha mimada, também é convencida. Num dos programas, ela teria que estar de biquini e beijar pra umas fotos, lá estava ela assanhada, agarrando um modelo qualquer na praia, rolando pela areia com a bunda de fora. Num outro, quando ela tinha que posar pra umas fotos com a alcinha da blusa meio caidinha, ficava com vergonha, dizendo que os ombros seriam um problema pra ela. Ai ai ai...Numa outra seção de fotos, deu xilique porque tinha que posar com um chimpanzé, "eu tenho medo de macacos, snif snif, buáá buááá", enquanto a Heidi dizia que todas tinham que fazer, porque vida de modelo é assim. Mas vendo a Gisele, surge na minha cabeça coisas do tipo clichês e preconceitos.

Lembro de um dia que elas precisavam desfilar numa passarela qualquer, e ela morrendo de medo, porque parece que nunca tinha feito algo asim. As meninas todas se sairam mal, até hoje não entendo porque elas estão lá, afinal desfilar é obrigação de modelos, mas isso foi logo no começo, elas melhoraram bastante. Nesse meio tempo, Gisele foi motivada por um americano (partes do programa se passam em Nova Iorque) a encarar a passarela com uma batida no bumbum e ouvindo: "ora, você se chama Gisele querida, vai lá e arrasa, afinal vc é brasileira!!" Ela chorosa como sempre, depois de ter se saído pessimamente no desfile, falou entre lágrimas e suspiros: "aiii, eu só nasci lá. Eu moro aqui há anos, buá´buáaa, snif sninf.." argh, dá até certo nojo! É muita chatice!
Aqui a Gisele à esquerda e algumas das concorrentes.

Outro dia, depois de seu ataque a um modelo bonitão, porque queria porque queria beijar o lindão, ela foi a primeira a ir ao encontro do rapaz, toda feliz por beijar alguém, ainda se saiu com uma dessas: "já faz um bom tempo que não beijo... ihihihihih, no início eu fiquei meio estressada, ihihihihihih, mas depois que toquei aqueles lábios macios, ahhhhh....ihihihihi"
Ahh não aguento essa menina.

Num intervalo do programa, depois do beijo, lá está a Gisele conversando com esse mesmo modelo, pedindo o telefone dele e outro beijo. Acredita nisso?? E claro, o modelo beijou e deu o número. ahahaha. No mesmo intervalo, um dos ajudantes do programa que apresenta com Heidi, comenta sobre o tal beijo: "ora bolas, essa deve ser uma das especialidades brasileiras, né?"

Gente, fala sério tudo isso. Tem hora que eu fico até com vergonha. Tudo é muito confuso quando se é uma brasileira fora de seu país. Assistindo as peripécias da Gisele na televisão, sendo exposta dessa maneira agressiva, e na verdade, levantando a audiência do programa, a gente fica se sentindo no meio de uma encruzilhada. Afinal, ser ou não ser quem na verdade nós somos? Devemos ser autênticas, correndo o risco de sermos tachadas de vulgar, ou sempre fazermos de conta que somos outra? Não autênticas, negando quem somos?

Existem mulheres aqui, que são oito ou oitenta. Umas vulgares demais, outras recatadas ao extremo, com medo de que qualquer movimento em falso do quadril vai levá-la a ser considerada: brasileira! A Gisele ainda é uma menina. Provavelmente, confusa no que ela realmente é. Alemã? Brasileira? Olhando seu rosto, nós brasileiras, nos reconhecemos nela, vê-se que ela é do Brasil. Os gestos são brasileiros, o riso é do Brasil. E o clichê é mundial. Não importa aonde vc esteja, você vai sempre ser brasileira, e vai estar sempre cercada do clichê de ser brasileira. Bundas e mais bundas, samba no pé, pobre, burra, puta, interesseira, barraqueira, traidora, rainha do fio dental, preguiçosa e pouco conhecedora das questoes ambientais, destruidora da natureza, amiga falsa, arrogante, materialista, aquela que diz crê em Deus, mas que não faz o que prega...

Eis alguns dos clichês que nós estamos sendo sempre sujeitas a ser chamadas pelo mundo afora. Tudo isso aí (e mais um pouquinho que desconheço) é o que o resto do mundo pensa de nós.

Infelizmente. Infelizmente. Infelizmente.

Ao mesmo tempo que isso me irrita, sei que isso não é exclusividade de brasileiras, porque o que você pensa sobre os alemães?? Você provavelmente, vai sempre ligar a nacionalidade de quem nasce aqui, ao nazismo, não é? Coitados, terão esse peso pra sempre nas costas. Sinto muita compaixão dos alemães nessa hora, porque não tem povo mais pacifista que este aqui, que aprendeu muito com os horrores da guerra. Mas clichês (leia-se preconceito) existem pra todos, o americano é isso, o japonês é aquilo, o árabe aquilo outro.

O problema pra mim, que sou brasileira e mulher, é que os clichês falam mais contra nós: mulheres.E cabe a nós mudarmos isso, se não em todo o mundo, mas ao redor de onde vivemos. No próprio ambiente onde vivemos. A pessoa que mora fora de seu país, é na verdade, cada um, o embaixador do seu país. O que a gente é, vai mostrar ao nosso vizinho, ao parente do marido, ao amigo na universidade, ao colega de trabalho, ao coleguinha do seu filho, aquilo que nosso país é. Nós representamos o nosso país, quer queiramos, quer não.

Já vi brasileiras, coitadas, que até se orgulham por não saberem sambar. Ora eu sambo, e modéstia à parte, relativamente bem. Acredito que o samba e a nossa incrível musicalidade, ao ser ouvida por outras bandas, nos acorda, nos movimenta, é como se estivesse no nosso sangue. Mas não é samba no pé que diz quem sou. É o meu comportamento em casa, na rua, sozinha ou com meu marido, com meus filhos, na escola deles, que mostra quem eu sou realmente.

No Brasil, somos todos tão diferentes, ricos em variedade de tipos. Por isso mesmo, concordo com o que diz uma música que a Rita Lee canta num cd, "nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é bunda, meu peito não é de silicone, sou mais macho que muito homem".

Comentários

  1. O seu texto diz tudo, Nina.

    Só me falta dizer que os clichés, as frases feitas, os rótulos são atributos que vêm sempre da boca de gente ignorante, preconceituosa e estúpida.

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  2. Também é fato que muitas de nós fazemos questão de perpetuar tais clichês, não é Patti?

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  3. ... adoro um reality...
    Mas não desses que as pessoas vão se exibir. Gosto desses com finalidade. Se é pra exibir, exiba-se.
    Mas preconceito é o fim.
    E é sempre assim, quando fui pros EUA vivi um momento ilário, tava conversando com a conhecida da conhecida e ela bem assim pra mim:
    - Você brasileiras são bem saidinhas né?
    Eu - Hum?!
    Ela - Vocês dançam como se estivessem fazendo sexo!
    Eu - Hum?!(pronta pra dar uma porrada nela) VocÊ não assite TV???
    Ela - Nós americanas somos mais recatadas.
    Ela estava usando um micro shorts jeans desfiado, estava acima do peso uns 10 kilos e com uma camiseta que dava até pra ver o coração...
    Nessa mesma hora tava passando um clip de um rapper famosissímo por lá, onde ele falava grosserias, e as meninas só faltavam tirar a pouca roupa que estavam usando. Fala sério né?
    é o famoso o "macaco não olha pro próprio rabo!"
    Beijins Nina e falta pouco pra suas alegrias voltarem pra casa né?

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  4. Que coisa chata, eu sei que o preconceito existe em todo mundo, mas não sabia que pensavam isso das brasileiras, que garota besta essa,quer negar as origens,dando uma de idiota, a mulher brasileira não é só corpo e rosto bonitinho não, é guerreira, inteligente, lutadora,forte, é uma verdadeira rocha que não desisti diante dos problemas fácilmente eu sei disso vc sabe muitas de nós sabemos, mas infelizmente aparecem essas criaturas ai é pra acabar, e olha que conheço um montão desse tipo !!!! Nina tô lendo os outros Blogs que aparecem no de vcs qdo tenho tempo tô ficando viciada em nisso tô até fazendo comentário nos blogs dos outros!!

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  5. Adoro essa música da Rita lee...vc fechou muito bem esse texto que diz sobre todas nós: Mulheres! Existe mulher de todo tipo e em todo lugar do país,do mundo...Preconceito é uma merda mesmo! Mas como já disse, podem falar o quiserem de nós, mas eu tenho preconceito é com essas pessoas que são totalmente ignorantes...Sim! Esse é meu único preconceito, com as pessoas ignorantes!
    E acho um abuso a Gisele não gostar de chimpanzé!rs!
    Eu queria que esse povo do reality viesse aqui na minha casa e passasse uns dias com as brasileiras aqui, aí eles íam ver o que é ser brasileira! Brasileira é acordar cedo, batalhar sozinha sem marido para sustentar os filhos, depois fazer faxina na casa, fazer comida e ter um tempinho minimo para assisitr a novela!
    Falei demais!
    Ah! Adorei seu comentário no meu blog, lindo! Sinto a mesma coisa e é por isso que adoro tanto vocês! Não foi por acaso que nos encontramos.

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  6. Olá Nina,

    Acho que a mulher tem que se dar valor.
    No dia em que ela descobrir que é mais que uma bunda e que ter cultura vai além de saber sambar, vai dar tudo certo.
    Na minha opinião, é a mulher que não se valoriza. Ela acha que para agradar as pessoas (homens), tem que ter bunda grande e cabeça vazia. Qto mais retardada for mais sucesso vai fazer.

    Desculpa o desabafo. É que eu tinha (Graças a Deus, tinha), o tipo físico que é a paixão nacional. Mas, sinceramente, no começo foi legal, mas a medida que fui amadurecendo, fui percebendo que aquilo tava ridículo. As mulheres me olhavam com ódio (se estivessem acompanhadas, então...) e os homens com aquelas caras ridículas de "oba! Vou pegar!". Vc não tem noção das cantadas vulgares que eu ouvia. E olha que o meu jeito de vestir e de me comportar nunca foi vulgar.
    Fiquei paranóica pra emagrecer, fiz todo tipo de dieta, mas só conseguir ficar realmente magra depois que a Lara nasceu.
    Até hoje, encontro com "amigos" do passado e eles "discretamente" comentam: "Nossa! Vc emagreceu, né. Sua bunda sumiu." Como se eu fosse só uma bunda.
    Ninguém queria me conhecer de verdade, eles só queriam o troféu. Mostrar pros amigos que pegou uma gostosa.

    Me perdoe se este comentário foi quase um post de tão longo ou se alguma coisa sôou como convencimento ou despeito.
    Minha intenção não era essa.
    Foi simplesmente um desabafo.

    Bjux querida!

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  7. Nina no carnaval de 2004 levei um suiço para o litoral com a minha família e lá encontramos minhas primas... uma prima só faltou se jogar em cima do cara e a minha cara caiu no chão... infelizmente muitas mulheres reforçam os clichês.
    Um forte abraço.

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  8. Aaaah! Bem vinda ao clube, Nina! Já senti na pele este preconceito, mas quando viram com quem estavam lidando, passaram a me chamar de senhora! O problema é que de dez brasileiras que vão tentar a vida aí fora, seis são como a Gisele. Cabeça oca, só querem se dar bem, só falam "abobrinhas" e aí "queimam o filme de todas", como se fala na gíria.
    É inegável que nós temos um jeito de andar diferente e que somos reconhecidas até por isso, mas se você tem uma postura de respeito, ninguém vai te atirar pedras.
    Temos má fama, sim, e eu digo "temos" porque mesmo morando fora e sozinha, nunca escondi que era brasileira e no início havia olhares de lado mas depois que me impus era até querida por isso. E aí é que fazemos a nossa parte em mostrar que somos diferentes mas não piores do que ninguém. Passaram a gostar do meu jeito de falar, perguntavam como eram algumas coisas aqui e eu me acostumei com o modo de vida deles, sem perder a minha naturalidade.

    PS: Acostumei-me tanto que nem queria mais voltar.

    beijos e passa lá. Tem Bossa Nova.

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  9. Ola Nina! Saudades ;)
    Tambem não sou muito de ver tv, assisto filmes, seriados que considero bons.
    Adorei a forma que descreveu o reality, imaginei todas as cenas da Gisele...rs, infelizmente a fama do brasileiro não é muito boa nos paises a fora, nunca sai do Brasil, mas posso imaginar a imagem que as pessoas tem de nós e se a imagem que tem não é boa, é porque fizemos por onde, ainda que não se possa julgar todos por alguns...
    Haaaaaa amei a foto de vc com aquele barrigão! Linda! Muito bonita mesmo, não sou mãe, mas imagino como deve estar sendo estes dias longe de seus filhos..mas logo eles voltarao para seus braços grande mãe Nina! Tenha um otimo fim de semana! BJuss

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  10. O preconceito nos persegue,não é?Me refiro à humanidade,sabe?é muito complicado,às vezes somos preconceituosos e nem percebemos.Eu tenho consciência de que digo coisas preconceituosas,mas nem sei quando e como.
    Em relação ao preconceito contra nós,BRASILEIRAS,nem agüento mais.O problema é que algumas se esforçam para não mudar essa imagem,só fazem piorar a situação.Mas nós,que temos algum senso do ridículo e dignidade,vamos lutando,para ver se ao menos nós somos respeitadas individualmente.
    Ah,não esse reality deve ser bem engraçado...esses que dão alguma carreira no fim são muito engraçados!
    Ah,obrigada,obrigada mesmo pela ajuda que você me deu lá no meu post.Naquele dia ,eu estava irritada e nem sabia,acabei falando tudo e vocês me ajudaram muito.Como você disse para a Carlinha,é muito bonito ver que todas nós estamos pensando da mesma maneira,é legal ver uma ajudando a outra,mesmo de longe.Acho que se todas estivéssemos perto fisicamente,não nos ajudarímaos tanto quanto conseguimos com toda essa distância.Obriga mais uma vez!
    Ah,graças a vocês,melhorei muito!
    Beijos^^

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  11. Obrigada meninas, por cada uma de vcs terem contado um pouco de sua própria experiência e sua opinião. a vivência de cada uma mostrou o quanto esse preconceito contra nós é forte e ainda resiste, mas temos mt bons exemplos de mulheres que estao fazendo um pouquinho que seja pra melhorar nossa imagem já tao desgastada.
    Obrigada novamente.
    Bjs

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