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O Tema Hoje é Educação

Dia 18 de Abril aconteceu mais uma blogagem coletiva, agora com o tema: "O que você faz para acabar com o analfabetismo no Brasil?" Vários blogs estão tratando do mesmo assunto e nós claro, não poderíamos ficar de fora de um assunto tão importante como este. Apesar de não ficar de fora, vou fugir um pouco do tema, eu acho, porque sou sincera em afirmar que nada faço contra o analfabetismo, já que nunca tive chances de ajudar alguém a ler, a não ser meus próprios filhos, alguns amigos deles, alguns filhos de vizinhos ou poucos sobrinhos.




E vale afirmar ainda que analfabeto é aquela pessoa que não consegue ler ou escrever, mas também aquele que não entende o que lê (analfabeto funcional). E infelizmente esse número é maior do que o de analfabetos propriamente dito.

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Sempre fui uma pessoa muito preocupada com minha própria educação, me esforcei muito para melhorar meu desempenho na escola. Tive grandes problemas nos primeiros anos da minha vida escolar. Comecei a frequentar a escola tarde, um ano mais tarde que o normal, não lembro de ter frequentado jardim da infância. Lembro que aprendi a ler sozinha, com minha irmã, porque isso não foi-me ensinado na primeira série. Eu sempre tive sede de aprender. Acho que já percebia que nada me seria dado de graça.

Da primeira a terceira série do que chamam hoje, ensino fundamental, tive sérias dificuldades, porque tive professores muito ruins. Mas o ano mais difícil pra mim foi a terceira série, quando as coisas na escola começam mesmo a esquentar, e pra completar, eu tinha uma professora que era uma verdadeira bruxa, chegava a ter pedadelos com aquela mulher, de olhos arregalados e cabelos desgrenhados. Ela só faltava me chamar de burra, se é que não me chamou e eu já esqueci. Eu tinha tanto pavor dela, que nas suas aulas eu inventava uma dor de barriga qualquer e me escondia no banheiro até o sino bater e a bruxa voar com sua vassoura até a próxima turma, que ela iria enfernizar com sua risada debochada e olhar crítico. Ali, com aquela péssima aula, e péssima professora, começou meu martírio em matemática.

Em decorrência desse difícil começo, vivi grandes dificuldades no ginásio, no ensino médio, na faculdade. Durante todo esse período fiz das „tripas coração“ para me melhorar, ralando muito pra entender o que já deveria saber há muito tempo. Foi assim, a duras penas, que descobri que temos nas escolas brasileiras, uma base muito fraca. Não era só eu que tinha problema na escola, outros muitos colegas tinham também, e o problema era que também os professores tinham uma base fraca e por sua vez, não sabiam passar adiante seus escassos conhecimentos.


Vejo hoje meus filhos, com certas dificuldades que eles não precisariam ter, mas eles têm, porque a base continua ruim. Anos se passaram desde minha terceira série e meus filhos continuam com as mesmas dificuldades que eu tinha. Por sorte as crianças de hoje têm mais recursos quando comparadas aos seus pais.

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Trabalhei com comunidades, distantes da cidade grande. Por 2 anos e meio, lidei com pessoas que não sabem ler ou escrever. Gente nova, com 25 , 28 anos, com uma porção de filhos (a média de filhos por casal era 6, repito: a média!!) igualmente analfabetos. Que apesar de estarem frequentando uma escola, possuem as mesmas dificuldades que os pais, e os avós tiveram. Muitos desistirão da escola, assim como seus pais, porque eles não vêem futuro melhor pra eles do que plantar mandioca no quintal, queimar a pele debaixo de sol na labuta diária, ter um companheiro, 10 filhos, envelhecer 20 anos em 2, e perder todos os dentes da boca. Assim, igualzinho como seus pais.

Eles não têm motivação alguma de ir pra escola, porque a base continua fraca e o que é ensinado não está adaptado a sua rotina diária, ao seu pequeno mundo do interior.

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As crianças no recreio comem qualquer coisa que compram na esquina, enchem a barriga de guloseimas sem nenhuma substância nutritiva, isso quando podem pagar. Muitos nas escolas públicas não têm o que comer em casa. Saem pra estudar sem o café da manhã, e muitas vão a escola somente pra comer algo, o que vem a ser talvez um farinácio, que vai somente encher sua barriga faminta, assim como sua mãe fazia com ele, a fim de matar a fome e calar a boca do bebê.

Sem paciência, sem instrução, sem leite materno, sem base alguma.

Como aprender algo na escola quando a base alimentar é tão fraca quanto o próprio ensino??

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Existem recursos para a educação. Existe também desvio desse recurso.
Existem bons projetos que tramitam no governo. Existe também quem emperre tais projetos.
Existem boas escolas. Existem também milhares de péssimas escolas.

O pior problema no Brasil é a corrupção, que desvia dinheiro público, que seria destinado pra serviços elementares como saúde e educação, diretamente para contas de outros. „Os culpados de nosso subdesenvolvimento somos nós mesmos, ou melhor, a melhor parte de nós mesmos: nossa classe dominante e seus comparsas“ Darcy Ribeiro


A base sempre foi fraca, continua fraca e muito pobre.
Igualmente como a mentalidade de muitos.

"Lugar de criança é na escola" (e de preferência, numa boa escola)



Algo forte pra se pensar:
"Quem acaba com o analfabetismo adulto é a morte. Esta é a solução natural. Não se precisa matar ninguém, não se assustem! Quem mata é a própria vida, que traz em si o germe da morte. Todos sabem que a maior parte dos analfabetos está concentrada nas camadas mais velhas e mais pobres da população. Sabe-se, também, que esse pessoal vive pouco, porque come pouco. Sendo assim, basta esperar alguns anos e se acaba com o analfabetismo. Mas só se acaba com a condição de que não se produzem novos analfabetos. Para tanto, tem-se que dar prioridade total, federal, à não-produção de analfabetos. Pegar, caçar (com c cedilha) todos os meninos de sete anos para matricular na escola primária, aos cuidados de professores capazes e devotados, a fim de não mais produzir analfabetos. Porém, se se escolarizasse a criançada toda, e se o sistema continuasse matando os velhinhos analfabetos com que contamos, aí pelo ano 2.000 não teríamos mais um só analfabeto".
Darcy Ribeiro

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