Pular para o conteúdo principal

Andando atenta

Voll und ganz bewusst sein pela cidade, é uma coisa que aprendi por aqui, e estranhamente não no Brasil. É andar atento. Totalmente atento! Não é estar de olhos abertos por ter medo do que possa acontecer, mas atento às belezas ao redor de si mesmo, enquanto se caminha pela cidade, por exemplo. Pode-se é claro, andar atento numa floresta ou numa praia, mas na cidade é muito bom. É um flâner, como se diz em francês. É passear meio que sem destino, quase flutuando, se deixando levar por ruelas, entrando e saindo delas sem pressa. Descobrindo coisas. Observando os cantos escondidos de um lugar, os olhares das pessoas, é andar sorrindo, o que aliás, também aprendi com os alemães.

Acho injusto pessoas que não reparam na beleza dos alemães e ficam só reclamando de sua frieza. Eles são gentis...

Andei hoje assim por minha antiga cidade, Freiburg. Fui sozinha para consultas de rotina com aqueles que preferi manter: meu querido dentista e minha doce ginecologista estão lá. Fui de trem, gosto deles. Gosto como eles vão devagarinho de vez em quando e gosto de ver pessoas discutindo temas que me fazem rir, ou quando observo os adolescentes, suas confusões e suas roupas malucas e cabelos coloridos. Na cidade, vou andando ganz bewusst, sem celular na mão (só pego pra fazer alguma foto), sem correria, com os olhos atentos. Passo por lugares que logo que cheguei na Alemanha admirava e hoje, sinto o mesmo, dezesseis anos depois. Gosto de ver as flores no mercado da praça onde há uma catedral e onde costumava comprá-las aos sábados; de comer Currywurst sentada na mureta onde bate um sol, numa temperatura de 23 graus; gosto de ouvir os muitos idiomas ao redor; os rostos diferentes; o casal brincando com o bebê e o menino que puxa o barquinho no Dreisam, o nosso riozinho que passa em estreitos canais pela cidade; o cachorro mais educado que muita gente; as muitas pessoas que se aglomeram nas áreas abertas em frente ao Teatro para pegar aquele saudoso solzinho no rosto... e vai me dando um aperto no coração: que saudade de Freiburg! Estamos separadas apenas por uma hora de carro, mas sinto saudade.

Então faço tudo o que preciso e volto para casa. Na espera do trem, observo um menino segurar a porta para cada passageiro que corre atrasado e lembro de tantas vezes que clientes seguram as pesadas portas na lojas, para o próximo que vem atrás. E o menininho ali, contente em ser útil, as pessoas agradecendo e subindo apressadas... mais um trem que parte...

Volto para minha casa, e ganz bewusst, vou sentindo o cheiro de flores das árvores, o silêncio, os passarinhos, o ar bem mais fresco e limpo, as casas dos vizinhos arrumadinhas para a primavera e páscoa, a floresta lá na frente, e então meu peito se acalma. Gosto muito do lugar em que vivo hoje. E Freiburg ainda é perto. Virei mesmo uma mulher do interior. É bom estar em casa.








Comentários