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A importante mensagem da música à alma

Uma das coisas que aprendi com o pai dos meus dois primeiros filhos, foi ouvir boa música. Ruy tinha realmente esse senso apurado. E foi assim que em 1998 cheguei para morar em Itacoatiara, carregando meus dois meninos: Laura com quatro anos e Joao Felipe com um aninho. Mas ali, trezentos quilômetros da capital Manaus, era raro ouvir música de qualidade, seja nas rádios, nas residências ou casas de show. E eu sofri um bocado para me adaptar à situacao. Ruy havia recém comprado um aparelhinho de som e adquiria com o pouco dinheiro que entrava, CDs quando ia à capital. A gente ia se virando num tempo em que nao havia música à disposição na internet como há hoje. 

Certo dia, pedalando por uma rua sem asfalto, ladeada de casas muito simples, ouvi vindo de uma dessas casinhas, música clássica. Fiquei tao encantada que passei a pedalar bem lentamente, quase parando, só pra continuar ouvindo. Cheguei até mesmo a cogitar a ideia de bater naquela porta, pra conhecer a pessoa que ouvia aquilo. 

A imagem desse dia me é tao clara hoje! A casa tinha uma cerquinha baixa, algumas plantas e uma cortina transparente na janela. Toda de madeira e envelhecida. Tinha o sol de sempre do Amazonas, mas um céu nublado e minha bicicleta usada, vermelha, passava sacudindo pela rua cheia de pedrinhas. Como eu estava feliz por ouvir aquela canção! Percebi nitidamente a esperanca naquele momento em que nada estava tão perdido como eu podia pensar, e que mesmo que tudo ao redor parecesse deteriorado, ainda era possível encontrar o belo. Fato é, o gosto musical daquele povo não era como o do meu companheiro, mas havia alguém naquela casa que se recusava a fazer parte da maioria. Lembro de mim sorrindo enquanto continuava meu percurso. Sim, aquela música me encheu de alegria. Sei que parece bobo, mas estou sendo muito sincera. A boa música eleva nossa alma para algum lugar que é terno e belo... 

Alguns poucos anos depois desse dia, reecontrei um amigo alemão e com ele e outros amigos, fiz uma viagem ao interior do Amazonas. Ficamos hospedados na casa de um carioca que morava no meio da floresta. Numa noite, saímos para comer algo, um sanduiche numa lanchonete na cidadezinha mais próxima e o meu amigo alemão, que já estava cansado de ouvir "technobrega" quase explodiu de alegria quando ouviu, vindo de uma outra casinha como aquela que vi em Itacoatiara, uma música do Depeche Mode, banda que os alemães são apaixonados! Ele, o europeu desengonçado, ficou dançando no meio da ruazinha, que no fim dela, podia-se ver no horizonte, um céu começando a escurecer, as nuvens acumuladas de água que logo desceriam sob forma de uma torrencial chuva... E eu fiquei olhando meio envergonhada e meio orgulhosa, por notar que um conterrâneo meu se sobressaía daquele horrendo gosto musical em que estávamos inseridos...  

Estas são duas cenas que me marcaram profundamente. Duas cenas que têm um belo fundo musical. Que têm a ver com uma época da minha vida, cheia de conflitos e medos, mas também cheia de esperanças. Interessante é que, do que a maioria das pessoas ouvia freneticamente e quase sem pausa, nada ficou na minha lembranca... nao consigo lembrar de nada, de nenhuma letra sequer daquelas músicas horrorosas, mas dessas cenas lembro como se fosse hoje. 

* * *

1. Tudo isso só pra lher dizer, que nao, Anitta, a quem tive o desprazer de conhecer somente há poucos meses e de quem nunca ouvi uma música sequer, não é conhecida por estas bandas como andam dizendo pelo Brasil...

2. Se tiver interesse, veja a magnífica série da Brasil Paralelo: A primeira arte e entenda um pouco mais sobre a importância e a mensagem da música nas nossas vidas. 

Comentários

  1. Prima também fico horrorizada com as músicas do nosso Brasil hoje é vergonhoso, sempre comento isso com o Beto, músicas sem mensagem nenhuma, apenas sexualidade, muito triste, como você mencionou, hoje temos a Internet para recordamos músicas de nossa época, onde o que ouvíamos era música de verdade

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    1. O negócio tá ficando cada vez pior, prima! Qualidade é uma coisa inexistente. Tudo repetido, tudo igual, tudo vulgar, um horror! Uma das coisas mais marcantes que vi nessa série que indiquei, é quando eles dizem como a música está ficando simplória demais, já nao tem mais a complexidade, como havia no início...

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  2. Nina, assisti esse documentário do Brasil Paralelo e amei!! Fiquei que nem doida indicando para os amigos assistirem!! Uma boa música, não tem preço!

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    1. É demais, né Simone? Um verdadeiro encanto! Só a última parte que é tristíssima :-(

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