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Povo reclamão!


Era ainda começo da tarde e esperávamos o lento elevador, numa estação de metrô em Berlim. Somos obrigados a pegar o elevador quando damos sorte de ele existir, porque estamos com um carrinho de bebê. Na falta dele, temos que carregar o carrinho pelas escadas, porque algumas dessas estacoes, tem mais de um andar. Duas mulheres entraram junto conosco, uma delas, estrangeira. O elevador em vez de subir, desceu. A estrangeira, que deve morar em Berlim já há muitos anos, ficou reclamando o tempo todo, dizendo que alguém deve ter apertado o botão lá embaixo, que isso é uma canseira, que a outra mulher deveria ter apertado antes e mais rápido. Lá embaixo, entrou outra pessoa com um carrinho de bebê. Depois o elevador voltou para o mesmo andar onde o pegamos, a porta abriu e a mulher olhando pra uma que estava com outro carrinho, resmungava: Aqui nao cabe mais ninguém! E continuava a reclamar sem parar, do funcionamento estúpido daquela engrenagem, olhando atentamente pra nós a fim de ter alguém que ficasse do seu lado na murmuração - o que graças a Deus, não aconteceu. O elevador subiu finalmente e lá estávamos todos nós, livres daquela reclamona que quase me fez falar pra ela, que aparentemente nao tinha problema algum de locomoção: se está tão ruim e demorado, por que a senhora nao foi pelas escadas?
Mas é claro que me calei, caso contrário, iria recomeçar a ladainha...

Aquele foi um dia bastante quente e como andamos bastante, no fim estávamos exaustos.  Chegamos no hotel, cuidei primeiramente das criancas e quando ambas já estavam na cama, corri pra tomar um banho. Quando eu finalmente estava no chuveiro, agradeci a Deus a oportunidade de estar ali, usufruindo daquela água morninha e tão limpa! Meu Deus, como temos a agradecer! Me peguei pensando nos milhoes de pessoas que atualmente, nao tem esse privilégio. E numa épcoa quando crianca, em que moramos num bairro em Manaus que nao tinha nem mesmo banheiro e tomávamos banho por um tempo, com a água da chuva que enchia um grande tonel, ou ainda, numa cacimba na rua perto de casa. Olha só, cacimba! Coisa que muita gente nos dias de hoje, nem sabe o que é. Pensei na rabugentinha do elevador e como a gente está tao acostumado a reclamar de tudo que já nem percebe. Perdemos a sensibilidade da vida, e estamos cegos com o que temos a nossa volta.
Minha gente, muitas dessas coisas que temos hoje, nao eram possíveis bem pouco tempo atrás! Uma tomada que falta perto da cabeceira pra carregar o celular (que aliás, não é recomendável), wifi que não tem num restaurante, um ônibus que demora um minuto a mais, a comida que veio menos quente, o elevador que desce em vez de subir primeiro, etc, etc, etc, nada disso é o fim do mundo! Cala a boca e curte um pouco o momento!
Caraca! Quando foi que nos tornamos tão egoístas, insensíveis e ingratos?

Meu marido outro dia, dirigindo com a gritaria dos filhos, deu um berro comigo quando eu, precisando mudar de assento por causa do bebê, falei algo sobre a bagunça do carro. Pra ele, tudo aquilo era barulho demais e ele não aguenta me ver reclamando. Mas eu disse pra ele depois (nunca reclamo ou tento explicar algo importante com ele bravo) que aquilo não tinha sido reclamação e que  estava apenas fazendo um comentário, mas pra ele soou como tal. Eu o entendo! A verdade é que nós, mulheres, somos muito faladeiras. Pensamos alto, temos uma opinião sobre tudo, e isso cansa de verdade, principalmente quando fazemos isso em hora inapropriada. Passamos uma péssima impressão e parecemos ser murmuradoras, igual a mulher no elevador, que de repente, nem mesmo ela sabe que é um ser humano desagradável quando reclama...  coitada.

Sei que o post tá meio sem pé nem cabeça, e que na verdade, esse é um tema recorrente neste blog, mas só queria te dizer para, na próxima vez que vier a vontade irresistível de reclamar, que você pense por um instante nas coisas boas da sua vida. E como eram difíceis as coisas antigamente. Lembre dos filmes de época que você já assistiu: aqueles da idade média, lembra? Quando não havia água quente, nem energia elétrica, nem escadas rolantes e muito menos elevadores e wifi ;-)  

Comentários

  1. Quem diria que no metrô de Berlim não tem escadas rolantes! Hahaha. Como sempre seus posts me lembrar tanto de mim! Embora eu não me recordo de ter reclamado em elevador alguma vez na vida, mas meu pobre fretado de cada dia, ai dele quando atrasa um pouquinho... Quanta ingratidão para quem pode voltar do trabalho cochilando confortavelmente num banco estofado!

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    Respostas
    1. Oi Camy, tem escada rolante, mas evitamos usar com o carrinho de bebê...
      E sim, mulher, nao reclama do fretado ;-)

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