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Decorar o que é meu

Sempre que chego em um hotel, fico deslumbrada com a decoracao (quando é o caso, obviamente!). É tudo tao simples! Admiro as formas retas, as persianas, as cores claras e calmas, a roupa de cama sempre branca e tao bem arrumada, o banheiro limpo, a falta de poeira. O pouco. Fica tudo tao bonito! Daí, abro a porta de casa depois da viagem, e me deparo com um lar  cheio de tralhas. Chego quase a ter uma "depressao pós-hotel", se isso existisse. Entao, comeca a me dar um comichao nas pernas e maos e fico pra lá e pra cá, tentanto pensar numa maneira de diminuir a quantidade de informacao no lugar. 
Penso, repenso, elaboro, faco imagens da bagunca na cabeca e na máquina, e no fim, percebo frustrada, que nao tem pra onde correr. Nao tenho lugar pra jogar fora e/ou esconder todo o excesso de coisas acumuladas por toda uma vida de quase onze anos! (o tempo que moro neste país). Aí, me jogo no chao, dramaticamente, enquanto percebo o subir da poeira em volta. Olho pra baixo do móvel onde um poeirao se acumulou de tal forma que mais parece um ratinho e quero chorar. Pior ainda fico, se entre uma pensada e outra, olho para as imagens quase surreais do Pinterest. Como eles conseguem deixar aquilo daquele jeito tao, tao, tao simples, compacto, limpo visualmente e elegante? Tao bonito que chega a dar raiva!
Decido sonhadora, que quero ser minimalista na minha decor, assim como quase sou, quando me visto. Mas, ainda jogada como um trapo velho no chao manchado de respingos da última pintura da parede, ou do iogurte derramado pelo filho, olho minhas paredes em volta quase todas com uma cor diferente da outra e penso que nem pareço a mesma pessoa que decorou aquela casa: é que me visto de forma mais discreta, nem  de estampas gosto, nem de cores berrantes, nem tampouco bijoux em excesso. Ouso muito pouco no vestir. Mas as paredes da minha casa sao coloridas e cheias de coisinhas! Há algum distúrbio em mim...
Levanto do chao e tomo um café. Olho em volta, e penso naquele hotelzinho onde estive semana passada. Tinha toda a elegância que eu admiro, mas que nunca me fez sentir realmente bem. Internamente, sei que sou uma pessoa simples e que nunca teve fascínio pelo extremamente sofisticado. Nao nasci, definitivamente, pra ser rica ou madame! 
Ainda degustando meu café, olho de relance à minha frente, onde um espelho comprado numa feira de usados na Bélgica, reflete minha cara de decepcao, os quadros acima do sofá, desalinhados, colocados por mim, com meus olhos tortos, mostram fotos que meu marido fez nas nossas viagens e algumas,  quando estivemos no Amazonas, contemplando o mais belo por do sol do planeta! Meus filhos estao sorrindo e me olhando num porta retrato que comprei na França, as cortinas de renda baratinhas da Ikea,  emolduram a janela de vidro que dá pra varanda, onde tulipas, comecam a surgir no fim do inverno, na varanda ainda muito fria, mas com possibilidade de sol a partir de amanha. Na prateleira da sala de jantar, um simpático e antigo bule de cobre, meu metal preferido, que veio de Portugal, tem em vez de chá ou café, uma plantinha dentro. O puff de couro amarelo, que paguei um preço ótimo numa feira em Marrakech,  parece que sorri pra mim, perto do sofá cinza, que todo mundo estranha. "Ja, grau! Warum nicht?" (Cinza, por que nao?). Vou até a cozinha pegar um biscoito pra acompanhar meu café, e vejo um quadrinho trazido do Rio, com a imagem do Pao de Açúcar, pertinho de um outro, decoracado com os típicos azulejos de Lisboa, onde se lê a delicada frase: Cozinha da Mamae. E de repente, aquele mundo de cores e penduricalhos, aquecem de ternura meu coracao. 
Volto a sala e olho o quadro que uma grande amiga pintou para mim, trazendo as cores predominantes do ambiente, que é verdade, nao é exatamente como eu gostaria, mas que conta tanto de mim e da minha família... Como nao amar tudo isso? Paro de pensar e comparar, e rio pensando no hotel. Aqui nesta casa, temos histórias! Um hotel nao as tem! Por isso ele é tao vazio, tao branco e tao estéril. 
Esse é o meu lar! A casa que decorei com amor, juntando pequenos pedacos, remendando aqui ou ali. Formando uma colcha de retalhos, que vai ficando mais bonita e macia, a cada lavagem.

Acabo meu café e ligo o computador. Me deparo com este texto inteligente no site dcoracao.com. 
Era o que faltava pra eu aceitar meu jeito destrambelhado e amoroso pra decorar o que é meu...

Comentários

  1. Adorei o texto,adorei te ler! bjs, tudo de bom,chica

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  2. Lindo Texto. Ainda não tenho minha casa mas quando morei sozinha, ainda que alugado, sempre decorei o pouco que tinha de uma forma sozinha, e hoje meu quarto também segue as mesmas regras, dessa vez com espaço para os brinquedos da Helena, quase sempre espalhados por todo o chão. rs

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    Respostas
    1. Sempre morei em casa alugada (nunca tive vontade de comprar nada, parece que nao quero me sentir arraigada em lugar algum), mas sempre decorei, pintei, furei parede, fiz enfim, tudo pra melhorar o ambiente. É bom demais, ne Jhuliem? Eu amo decoracao. A tua pequena lindinha tem sorte de fazer parte desse ambiente ;-)

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  3. Nina, pois o pouco que eu vi da sua casa aqui pelo blog, achei uma fofura! Eu gosto de cores, mas na decoração de casa, não consigo ousar tanto. Diferente de você, eu já uso mais cor no vestir (principalmente primavera-verão, acho que pra compensar o minimalismo de casa...hahah) Ano passado pintamos o lavabo de azul escuro e eu decorei com uma tela alaranjada com o desenho de jangada. Ficou lindo! Na minha casa tenho alguns objetos coloridos, mas as paredes (exceto do lavabo) seguem brancas, rs... mas é isso, a casa tem que ser do nosso jeitinho, né?! Bjs

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  4. Adorei o texto, eu acho tudo uma bagunça aqui em casa, mas o melhor lugar para dormir é minha cama rsrs.

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