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Sou contra o aborto

No início dos meus vinte anos, fiz um aborto. Sempre tive vontade de ser mae, e essa decisao me doeu muito e até hoje,  vinte e poucos anos depois, ainda me comove. A ocasiao não era de forma alguma, a mais propícia para eu ter um filho. Cometi uma falha muito grave e nao consegui ver saída para a situacao. O aborto parecia ser, no momento, a decisao acertada.

Nao foi!
E eu me arrependo muito de tê-lo feito.
Eu nao queria abortar!! - realmente nao queria, e tive que lutar muito contra mim mesma para fazê-lo. Desejei desesperadamente, assumir a gravidez, mas a situacao era totalmente adversa. E isso nao me faz melhor que alguém que nao queira assumir uma gravidez, ambas estamos partindo do ponto errado: Nao é o que fazer dali pra frente, mas sim, porque fizemos?

Tive "sorte". Era bem no início, tomei apenas um comprimido e nao senti quase nenhuma dor depois. Quero dizer, nao houve realmente, dor física, mas a emocional, aquela coisa pesada e sentida, que eu arrastava por longos anos, como correntes num corpo fantasma, essa era dura e difícil de ser suportada.
Essa atitude me roubou paz interior por muitos anos, "destruiu" a base do relacionamento que acabava de comecar - apesar de ter sobrevivido ainda por dez anos-  e talvez seja o motivo pelo qual, nao consigo mais engravidar. Nao sei se é assim de fato, mas a mulher deve ter uma quantidade X de possibilidades de engravidar, e acho que aquela vez me faz falta hoje...

Mas o que mais me incomoda nisso tudo é o fato de ter que pensar, inevitavelmente, que teria mais um filho hoje em dia. Um menino mais velho que minha Laura. Tenho vontade de saber como seria o seu rosto, o seu jeito, a sua voz. Me sinto culpada por nao tê-lo amamentado, carregado no colo, ninado, lido livros pra ele na hora de dormir, assim como fiz com meus outros meninos. O privei da minha presenca e do meu amor, o privei de conhecer seus irmaos, seus avós, tios e primos... 

É fácil criticar minha posicao e me chamar de dramática, nao é? Você pode pensar que eu nao posso julgar ninguém, que nao sei o que moça tá passando, enfim... E você está certo! Mas posso falar do que sinto, e é isso o que me faz falta, sinceramente: o fato de nao ter permitido que meu filho viesse ao mundo. Agi de forma egoísta, incorreta, magoei alguém muito importante, e tirei do meu filho (ou filha) o direito à vida. Eu nao tinha esse direito!

Hoje, por conhecer muito bem, o Deus que sirvo, sei e acredito, que sou perdoada, e a dor que eu sentia, motivada pela culpa, se transformou.  Sei por fé, que um dia irei conhecer meu filho, e isso me traz muita paz, e nao me permite sentir mais remorso... mas nao muda a minha posicao de antes e depois de abortar (mesmo sabendo que isso parece contraditório!)
Não sou contra você, que já fez. Mas sou contra o "ato" que você cometeu. Que nós cometemos.
Engracado como só entendemos quem realmente somos e o que podemos fazer, quando nos deparamos com as situacoes que nos obrigam a ver o tipo de pessoa que somos, nao é?! Veja o meu caso,  eu sempre fui contra o aborto, até que me vi em tal situacao... e como toda boa hipócrita, eu até falava mal das mulheres que faziam, me fazendo de boazinha aos olhos de quem me ouvia. Até que eu precisei tomar a mesma decisao que as outras tomaram,  e virei aquele copo d´água de uma única vez...

Nao foi fácil engolir junto o meu orgulho, ao notar que eu era uma farsa. Mas foi fácil todo o resto: tomar aquele comprimido num só gole, fechar os olhos apertado, acariciar a barriga, me desculpar com o nenên e chorar algumas poucas horas... Logo depois estaria livre para cometer mais e mais falhas, porque eu nao iria parar por aí com minhas cagadas pela vida... Mas poderia ter havido tantas outras complicacoes, que nao ficariam somente nas lembrancas, mas também no meu corpo e na minha saúde, talvez nem mesmo tivesse sobrevivido...

Sei que falar que Deus nao aprova sexo fora do casamento, num mundo como o de hoje, é loucura... mas apesar de o mundo ter mudado, Deus é o mesmo e nEle nao há sombra de mudanca. Sei que falar que a mulher, nao é dona do seu corpo, num mundo como o nosso, é loucura, mas... sabe? Dizer ao namorado (ou seja lá o que esse homem for) que só ela pode decidir se aborta ou nao, porque o corpo é dela e ela é quem manda, é loucura também!

O  mundo todo virou de ponta cabeca e o que estamos vendo por aí, como p.exe., meninas tomando pílula do dia seguinte depois de dar pra todo mundo na noite anterior, nao faz delas pessoas sensatas, donas de suas vidas e de seus corpos, necessariamente.
- Ah, é dona sabichona, e o que fazer entao?
- Ué, nao trepa minha fia!
E se trepou e engravidou, assuma seu filho!

O mundo nao vai acabar porque você vai ser mae, na verdade, é aí que tudo comeca...
***

o video aqui, pode ser uma continuacao do post



Comentários

  1. Com certeza vc já está perdoada pelo Pai de amor , bjs fik com Deus !!!

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  2. Nina

    Teus textos me comovem! Tua relação com Deus me inspira.
    Sabe que eu tenho muita dificuldade em me posicionar como feminista, por mais que concorde com algumas posições da causa. O meu maior problema é o aborto. Eu, como serva de Deus, não consigo conceber a ideia do aborto.

    Você tem dois pedacinhos de você no céu! E vai pode abraçar os dois.

    Bjs no coração

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  3. Nina, quanto tempo! estou tão distante da blogsfera mas de vez em quando visito lembro do meu tempo bom de blogueira e entro nos meus blog favoritos. E os seus estão nessa lista. Principalmente esse agora que você vem falar do amor maior, o de Cristo! as crianças já não são crianças né? a não ser o menorzinho...como o tempo passa rápido! Esses dias eu quis mostrar o seu antigo blog "o menina feliz" pra Lara, ela adora desenhar e quis mostrar suas historias e desenhos que sempre me encantaram e que me fizeram também por vezes rir, e chorar, Mas você fechou ele né? a convidados :'( Ou Nina gostaria muito de poder mostrar a minha filha o quanto as pessoas eram felizes na nossa epoca de criança. beijos grandes!!

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  4. Nina, como sempre seus textos nos faz viver o momento seja ele feliz ou triste feito esse...
    mas o senhor na sua infinita misericórdia e que sonda os nossos corações, Sabe de todas as coisas te perdoa porque ele é amor e misericórdia!!
    Beijos saudades!!

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  5. Cara Nina,
    Não sou a favor do aborto, mas sou a favor de sua legalização, principalmente quando vejo tantas histórias como a sua.
    Apesar de não saber quais foram seus reais motivos, acredito que muitas mulheres ainda fazem aborto por falta de apoio e desespero. E que se elas tivessem a quem recorrer neste momento difícil, com apoio e orientação, muitas não chegariam as vias de fato, interrompendo a vida de seus bebês e colocando suas próprias vidas em risco.
    Mas o que eu sei, né? Nossa vida é feita de escolhas e o resultado é que temos que conviver com as consequências delas. Se é certo ou errado, não nos cabe julgar...
    Fique em paz!!!
    Bjs

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  6. Tentei, por duas vezes, comentar. Mas saíram textos grandes, quase um post. rs Não é fácil falar sobre aborto, a maioria prefere esconder, quando acontece.
    Que seu post possa alertar a algumas mulheres, que seja, de que o preço a pagar é muito alto, né? Felizmente vc foi abençoada com mais 3 filhos e soube amá-los e honrar a glória de tê-los tido. Acho hipocrisia condenar, porque ninguém sabe o que faria se vivesse uma situação assim. Só vivendo para saber.
    Beijo, Nina.

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  7. Como você é corajosa Nina! Por isso te admiro tanto.
    As vezes só a maturidade nos dá sabedoria.
    Um beijo bem grande em você! <3

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