Há dias que nos permitimos visitar-nos a nós mesmos, quando meninos. É bom, nao é?!
Sentimos o pé descalço tocar o chão, pisar na
grama, subir na mangueira e pegar as mangas lá do alto. Sentimos de novo, o que era nao ter
medo. Nem de cair e nem das lagartas de fogo, que queimam nossa pele na mangueira. Olhamos do alto da frondosa árvore, a casa em que moramos e olhamos o teto, e temos vontade
de subir nele pra pegar aquela manga madurinha que caiu lá longe, mas ouvimos a voz da mamãe dizendo que é hora do
almoço. Descemos correndo, porque com mae nao se brinca, e alcançamos a cozinha, onde a
mamãe já colocou os nossos pratos e a comida simples mas que dá pra
todos. Sentimos todos os aromas e sabores e temos a mamãe
bem perto de novo. A gente se olha, a gente se alegra. A gente ri, todos os irmaos juntos.
Então,
corremos pra varanda, pra molhar o
piso vermelho com água e sabão e escorregar de barriga pra baixo. Apostamos quem vai chegar primeiro do outro lado da comprida varanda. Brincamos, escorregamos, caimos, com certeza, brigamos, nos divertimos.
Na TV ouvimos o
som da Jeanny é o Gênio, ou as músicas do Pássaro Azul, ou ainda a
Muher Maravilha fazendo coisas incríveis, ou quem sabe, já é hora do
Sítio do Picapau Amarelo, mas não temos tempo de assistir, porque logo
vem um amigo nos chamar pra brincar na rua. E saimos
correndo, pegamos os patins e a mamãe nos deixa brincar à vontade, uma
vez que nossa obrigacao já foi feita: a licao de casa! Chamamos o resto
da garotada, e surgem por todo lado, bola, bicicleta, corda, uma
amarelinha no chão, brincamos de barrabandeira...
A
noite vai chegando e depois do jantar, vamos à pracinha em frente de casa, encontrar os amigos, os
namoradinhos, ouvir histórias de terror, cantar junto,
contar as estrelas no céu e depois que a mamãe chama mais de três vezes
prometendo dar mais uma surra na gente, corremos pra casa, tomamos um copo
de leite, escovamos os dentes, beijamos e pedimos a bencao da mamãe e já cansados, sonhamos.
Sonhamos com o futuro. E o futuro já chegou e nos vemos, de repente, lembrando do passado...