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Sentindo medo

Alguns dias atrás meu filho chegou em casa com o nariz sangrando. Tinha sangue por todo o lado e mesmo que colocasse pano e mais pano por cima, o sangue nao parava de jorrar. Ele recebeu um corte na base do nariz perto da têmpora, uma regiao bastante irrigada. Foi assaltado e a pessoa que fez isso, segundo ele, um estrangeiro que nunca viu na vida, bateu no seu rosto causando esse corte na pele e quebrando o nariz do meu filho. Fui com ele para a emergência e ficamos mais de três horas por lá, entre pontos e raios X.

Nesse meio tempo muita coisa passava pela minha cabeca. Sou muito nervosa com coisas que afetam meus filhos. Como mulher, posso sangrar todo mês por toda a minha vida, sem reclamar, mas ver sangue em filho é outra coisa. A gente sai do nosso normal. O problema é que eu nao estava satisfeita com o que ele me falou. Como meu menino já teve uma terrível fase de muita mentira, eu nao estava acreditando nele. Pensei que estava mentindo sobre o assalto, afinal, ele poderia apenas ter se metido numa briga, coisa extremamente  rara em sua vida, mas muito comum na de outros jovens. Ou talvez, andando pela rua escura olhando para o celular (coisa que eu vivo pedindo pra nao fazer!), tivesse batido a testa num poste ou ter sido atropelado... mas nao, ele insistia no assalto. E eu insistia em nao acreditar.

Voltamos para casa, e mais tranquilos, conversamos. Pedi desculpas por minha reacao e por nao ter acreditado nele mesmo ainda nao acreditando... e os dias se passaram normalmente. Anteontem, peguei minha bicicleta e fui a um lugar meio longe de onde moro. Na volta, resolvi pegar um outro caminho. O sol estava muito forte e sem uma nuvem sequer no céu (os dias estao extremamente quentes por aqui, a Alemanha está derretendo!) e como sou totalmente desorientada, me perdi. Acabei entrando por uma ciclovia super longa, que nunca estive antes, e que passa no meio de uma floresta. Sem absolutamente ninguém por perto, sem água na cestinha, sem chapéu, sem orientacao alguma de onde estava. Parecia pedalar sem rumo algum, e já bastante cansada,  senti pela primeira vez na Alemanha, medo. Um medo real de que alguma coisa pudesse acontecer comigo ali. E porque o medo cria coisas bem reais eu pensava que a qualquer momento, algum maníaco enlouquecido poderia surgir do meio da mata e me atacar. Tive medo e Deus me fez lembrar do meu filho, sentindo o medo que ele sentiu e o susto que ele passou. 

Como para um cristao, Deus está a frente de tudo o que acontece, foi fácil pra mim, vê-Lo ali naquela ciclovia rodeada de árvores ameacadoras me mostrando o quanto fui injusta com meu menino. O meu Deus que de absolutamente tudo cuida, havia  permitido que eu entrasse naquela situacao para que assim eu acreditasse no que meu filho tinha falado...

Quis contar isso aqui hoje porque senti necessidade de compartilhar com os pais, afinal, temos o hábito de nos acharmos sempre com razao, nos vendo a nós mesmos como sendo superiores a nossos filhos. É claro que temos mais experiência, mas isso nao faz de nós, super humanos, nao é? É bom de vez em quando pedir desculpa e reconhecer que erramos, e precisamos fazer isso, sinceramente e de todo coracao... nao fazer como eu, de forma hipócrita,  fiz.
  
Aprendi outra coisa: Nao há lugar totalmente seguro no mundo que nao seja, nos bracos do nosso Criador.

Comentários

  1. Acho triste demais, Nina, saber que não temos segurança em lugar nenhum. Não sabemos o que nos espera, nunca. Viver é uma aventura constante.
    Nossa força tem que vir da fé, seja ela como se manifestar, não necessariamente num Ser, mas numa luz que nos guie e proteja. Tenho muitos medos, principalmente em relação aos filhos, mas se não me entregar a Ele, nada sou, pois não sou onipotente nem onipresente.
    Dúvidas quanto ao que os filhos nos contam, todos temos, acredite. E eles, às vezes, nos escondem para nos proteger, não por ser mentira pura e simples.
    Até prova em contra´rio, tem que acreditar.
    E saber que os caminhos, mesmo quando bonitos, podem nos assustar.
    Beijo.

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  2. Nina, vim ler sobre o seu medo, pois aqui no nosso Brasil vivemos atormentados pela violência cotidiana. Penso que o que nos ajuda é crer que temos uma força divina que nos ajuda a passar por momentos de tantas inseguranças. Essas dúvidas que teve são comuns, pois não nos contam mesmo tudo.
    bjs.
    Saudades.

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  3. Puxa, que pena,Nina!! O medo está em todo lugar! Não imaginava isso aí! Pena mesmo! bjs, tudo de bom e que triste por teu filho ter sofrido essa dor! bjs, chica

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  4. Espero que teu filho já esteja melhor. Tão sincero seu partilhar aqui, tantos medos que temos e por vezes é através deles que podemos entender o outro.
    Fiquem bem! Beijo.

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  5. Nossa, que coisa mais louca tudo isso no mundo, a violência está em todos os lugares e temos mesmo que sair pedindo ajuda divina e ao mesmo tempo, ter todo cuidado por onde andamos!
    Espero que seu filhote esteja bem agora e que não tenha que passar mais uma vez na vida por esta situação que é muito traumática mesmo.
    Meu filho vai pra Europa em outubro, ficará em Berlim e antes vai se apresentar em Barcelona, mas já o alertei que por lá acontecem muitos assaltos e tem que ter muito cuidado. Ele, como todo jovem, acha que tem capa de superman e não dá bola, não me ouve. Quando eu contar a ele que teu filho foi assaltado assim aí na Alemanha, quem sabe me ouvirá!
    um grande abraço carinhoso e carioca


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  6. Sim gente, foi uma coisa bastante desagradável e a primeira vez que passamos por tal situacao!
    Mas tenho certeza que aconteceu por uma razao mt especial que um dia, se Deus quiser, ainda vou contar neste blog ;-)
    Obrigada! Ele já está melhor.

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