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Minha mae e as cobras

E lá ia minha mae limpar o quintal. Parecia que ia pra guerra. 
Sapatos fechados, chapéu, facao, luvas, ciscador, vassoura e pá. 
O quintal era grande, tinha uma goiabeira linda, que nós nunca cansávamos de subir,  pés de abacate e graviola. Uma mangueira de tamanho médio, que dava umas manguinhas meio sem graca, que nem comparacao tinha com as que havia na vila militar. Uma hortinha, meio xexelenta, muita chicória que dava como mato e um matagalzinho que crescia sem parar depois de longos meses de chuva no Amazonas. 

Ela ia toda equipada enfrentar sua mais difícil missao na vida: limpar o quintal e encarar as "cobras" de duas cabecas. Mamae limpava tudo sozinha e nao sei porque, quase nunca nos chamava pra ajudar. Nossa única obrigacao era no fim da sua, colocar nos sacos plásticos, toda a folhagem que ela juntou.  De repente, no meio do nosso desenho animado preferido na TV, ela dava um grito que todos já esperávamos e que sem exagero, toda a vizinhanca podia ouvir. Saíamos correndo pro quintal,  já   tendo a certeza: mamae achou uma cobra!

Nao sei o que era mais engracado naquilo, se ver minha mae pulando feito louca apontando onde havia visto o bicho e prometendo que nunca mais iria limpar o quintal,  enquanto ela mesma tentava matar o pobre animal, ou nosso padrasto - o homem mais preguicoso e mal acostumado que já na vida - disfarcando que ia fazer o servico pra ela, nosso irmaozinho, querendo dar uma de corajoso, ou o cachorro que ficava latindo de um lado pra o outro, deixando minha mae ainda mais nervosa: cala a boca Boooooob!!! porque tu nao pega a cobra em vez de ficar latindo? 

Nossa casa era uma piada! Nao era de se estranhar que todos os amigos sempre preferiam ir pra lá, em vez de irem pra outras casas fazer tarefas em grupo da escola. Minha mae era e continua sendo uma figura e até hoje os antigos amigos lembram como era bom ir pra nossa casa. Vivíamos num lar muito alegre, onde sempre havia música, muitos lanches gostosos e a mae mais legal do mundo.

Mas essa mesma mamae virava fera se visse a tal cobra de duas cabecas, que só descobrimos depois que nem cobra é. Mas nao tem quem convenca a  minha mae que aquilo é somente algo como uma grande minhoca e que nem duas cabecas tem, é só um disfarce do bicho contra predadores... mas qual! Mamae se recusa a crer. Ela tem verdadeiro horror de cobra. Nunca esqueco um dia em que meu irmao, com cerca de 7 anos,  trouxe uma de brinquedo pra casa, e mostrou pra mamae assim, ousadamente, na cara da véia. Eu nao lembro uma outra vez, de ter visto minha mae tao brava com um filho, como naquela tarde, na vila militar. Ela soltou um berro altíssimo, estridente, deu um tapao no brinquedo, que voou longe,  puxou meu irmao pelas orelhas e falou com voz de trovao: nunca brinca comigo assim, seu moleque! Meu irmao nunca mais esqueceu essa licao. 

Mas com ou sem cobras, lembro tanto dos quintais das várias casas em que moramos. Pra nós, o quintal era mais importante do que a própria casa. Já mudamos muito, a cada dois anos mais ou menos, mudávamos de casa. E cada quintal era um mundo novo a descobrir.
Depois que crescemos, saímos de casa, formamos família e mamae finalmente pode construir sua casinha, ela, infelizmente (somente pra nós!) cimentou tudo em volta. Chega de cobra de duas cabecas e folhas pra juntar. Ela bem sabe que o marido continua preguicoso e ela tem mais o que fazer na vida, do que limpar quintal. 

Mas o pavor de cobra continua o mesmo!  e o amor a nossa querida mae, também...

Minha mae era apaixonada pelo Julio Iglesias...

Comentários

  1. Oi Nina lendo seu post lembrei das artimanhas das 4 mulheres lá de casa,rsrsrsrsr...Eu minhas duas irmas e minha mae.Em vez de cobra de duas cabecas lá em casa o alvoroco era (ainda é) quando aparece uma caranguejeira,aquelas aranhas peludas(Tenho horror),menina é um corre pra lá e pra cá com a vassoura na mao,rsrrsrs...Que chega a virar uma festa.E no final a aranha consegue fugir e nós ficamos com o pânico guardado para a próxima aparicao,normalmente no inverno quando elas procuram lugares mais quentes.E quanto a música sua mae tem um ótimo bom gosto.Eu amo Júlio Iglesias,rsrrsrs...
    Bjs.

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  2. Oi, Nina.
    Sua mãe é muito corajosa, pq se eu soubesse da possibilidade de cada vez me deparar com uma cobra, nem morta que iria limpar o quintal! rs
    Também tenho verdadeiro pavor, nem me imagino frente a uma.
    Mulheres fortes, que enfrentam o que têm que enfrentar. Sua mãe é um amor.
    Adoro Julio também.
    Beijo e bom domingo.

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  3. Menina, sua mãe era muito corajosa isto sim!
    Como bem disse a Lúcia acima, eu nem chegaria no tal quintal se soubesse da existência delas por lá, morro de medo.
    E porque toda criança lembra dos quintais da infância, né? Eu também me lembro do meu, tinha tanta coisa a desbravar por lá, eu adorava, mas graças a Deus não tinha cobras, mas tinha minhocas, terra, muro pra descascar e fazer comidinhas nas panelinhas, era bom demais!
    um beijão carioca e boa semaninha!


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  4. ei garotas, ela adoraria ler essas coisas :-)

    bom, nao eram cobras de verdade, mas nao importa, porque ela pensava que eram, isso a faz mesmo,uma mulher de coragem, o que minha mae de fato, é!

    Bja queridas!

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  5. Às vezes é melhor enfrentar cobras de duas cabeças do que certas coisas da vida, né???

    Feliz da sua mãe que sabia enfrentá-las...rs..

    Beijo, querida!

    Rê.

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  6. Ah Nina, saudade dos tempos que as cobras só rastejavam, rs... Hoje elas andam, usam bolsas de grifes e tem celulares de última geração, hahahahaha... Acho que essas são tão difíceis de pegar quanto as que tinham no quintal da sua mãe, hehehehe. Bjkssss

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