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Quando eu desejei ter 1,70

Sempre fui pequena. Era a menorzinha das irmas. E entre as primas também. Mas nada me irritava mais do que ver pessoas que eram tao baixinhas como eu, zombando de mim. Como alguns podem ser tao ousados? Nas escolas, antigamente, havia durante o ano, exames biométricos. Lembro de um dia que na minha escola primária, que ficava dentro de um quartel (meu padrasto era subtenente e morávamos numa vila miliar) fomos atendidos por um médico. Ficávamos, aquele monte de criancas, esperando ansiosas na fila, debaixo de um sol escaldante até a hora de entrar pra sermos consultadas. Entrei e o médico que tinha um assistente também do quartel, me mandou tirar o uniforme. Quase morri de vergonha. Eu tinha onze anos, era uma mocinha! Fiquei lá, só de calcinha e com a camisetinha de jérsey que minha avó costurava pra mim, depois que notou que sua netinha preferida (cof cof cof) comecava a  se desenvolver na partes de cima e o jalequinho branco já estava muito tranparente. Subi na balanca. O assistente falou ao médico meu peso e me mediu a altura. 
Depois de me vestir, o médico falou com uma cara entendiante - Nina Rosa, você é muito pequena para a idade e já tem seios. Vou lhe prescrever algo que vai te ajudar a crescer.

Saí da sala meio que levitando. Chateada é claro, por agora ser provado que eu era mesmo pequena, mas tinha nas maos uma pequena luz no fim do túnel. 

Nao lembro qual fora a resposta que minha mae me dera ao ler a receita. Só sei que nao tomei nada do que fora recomendado pelo médico. A partir daquele dia, tinha ainda mais vergonha do meu tamanho e tentei comecar uma verdadeira luta para crescer. Mas era muito preguicosa e nao tinha dinheiro sobrando para fazer esporte, coisa que sabia que ajudava no desenvolvimento. As aulas de educacao física na escola eram chatas, curtas e eu detestava sair correndo atrás de bola, feito uma idiota. Tarde demais, soube por nossa família supersticiosa, que minha irma que cresceu um pouco mais do que todas nós, conseguira aquela proeza pulando alto toda vez que passava por uma porta.  Me esticava feito uma lagartixa, o tempo todo e foi nessa época que entendi o poder da monocromia. "Use roupas de cores parecidas, para nao cortar sua figura" lia nas revistas de moda. - Isso faz aumentar visualmente o tamanho da baixinhas".  Apenas visualmente? Eu queria mais.
Comecei entao a sonhar desesperadamente. Nao queria truques, queria mágica de verdade!
Sonhava acordada, todos os dias antes de dormir, que um encanto  iria acontecer naquela madrugada. Eu teria os ossos todos esticados e acordaria com 1m70 de altura! Dormia toda noite repetindo: eu tenho 1,70, eu tenho 1, 70.... Ah, como eu achava linda e perfeita essa altura numa mulher. 

Daí ficava pensando que coisa legal seria aquilo. Imaginava a cara das minhas irmas, me admirando lá de baixo e minha mae dizendo " Minha filha, como você está bonita! Vamos ali comprar umas roupas novas, as suas antigas nao cabem mais em você"  e eu doaria bondosamente, todas as minhas roupas velhas para minhas irmas "baixinhas". Ai que máximo seria! 

É claro que a cada manha, quando abria o olhos devagarinho pra ver a mágica, acordava decepcionadíssima. Nada acontecia e eu fui perdendo o interesse naquilo. Foi nessa época que me viciei em livros. Era uma maneira mais inteligente de fugir da realidade.

Só fui aceitar meu tamanhinho, depois de passar dos 30 anos. Hoje isso nao é absolutamente nenhum problema pra mim e na verdade, adoro ser pequena. Acho que é uma qualidade a mais quando se vai envelhecendo. - Nossa, você nao parece ter a idade que tem"  e as amigas da minha filha vivem dizendo que a mae dela é a mais bonitinha e fofinha de todas as maes.

* * *
To lembrando disso porque meu filho adolescente, que tem o triplo de vaidade que eu e minhas irmas tivemos juntas quando meninas, me pergunta triste, todo santo dia, se o pai, o avô, o bisavô, o tio, ou seja lá  quem ele se lembre, tinha barba. E o pego sempre se olhando no espelho, barbeando um queixo limpíssimo que segundo ele leu em algum lugar, faz crescer a barba... ele nao aceita de maneira nenhuma ser um "desbarbeado" e fala que será infeliz para sempre. Ai meu Deus, vou ter que ouvir isso por pelo menos uns vinte anos ainda? 
É como minha mae sempre dizia: cada doido com sua mania.

Comentários

  1. rssssss..É bem assim mesmo! Sempre queremos o que não somos. E ri do teu filho agora ... beijos,tudo de bom,chica

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  2. E Nina... olha confesso que o post foi de certa forma engraçado, principalmente na parte da sua irmã pulando na porta... rs
    Mas diga ao seu filho que tem mulheres que ADORAM rostos limpinhos, eu por exemplo... Barba envelhece!!! diga a ele... e vi a foto de vocês, ele é muito GATO!!!!!!!
    E sua "baixinha" LINDA você tem um 1,70 de carisma, de personalidade, um super MULHERãO!!
    Isso sim chama a atenção...
    beijokas da amiga que te admira muito.

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  3. Do alto dos meus 1.54m, entendo perfeitamente a Nina Adolescente. Também já chorei escondido ao ser chamada de chaveirinho. E tinha tanta vergonha de ajoelhar na escola quando tinha missa (Colégio Católico), porque a sola do meus tênis sempre tinham bichinhos desenhados. Rs. Ainda bem que esse tempo passa. E esses desejos impossíveis também! Rs.

    Beijo grande!!!

    Rê.

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  4. Nina !!!
    Como está você e as crianças como sempre seu blog muito lindo né ? Com relação a altura nunca tive problemas sou até um pouco "altinha" rs!
    Estou voltando a blogosfera, não fico muito tempo longe... com um novo blog
    www.entaoagenteaprende.blogspot.com.br
    beijão nina apareceu mais vezez!!!

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  5. Oi, minha flor. Sei os problemas de ser baixinha. E olha que fiz tratamento pra crescer. Beijo Berê

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  6. Ai Nina, teu relato está ótimo e, confesso, tive que rir em alguns momentos, principalmente desse desfecho sobre a nova mania do filhote. kkkkk
    Tamanho não é documento já dizia minha vó e não é mesmo, pois você tem a grandeza na presença, na luz que irradia e na simpatia. Você é grande, Nina!
    beijos cariocas



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  7. Nina, parece que estava lendo sobre mim, eu que passei a adolescencia toda esperando a minha voz engrossar. Ainda hoje algumas pessoas ligam aqui em casa e pedem pra falar com meus pais, acredita? O tempo passou e a voz fina nunca engrossou, tive que aprender a viver com ela e aceitar que Deus a fez assim, fina, especial, doce e suave. Uma pena que só o tempo mostre algumas coisa pra gente, entao talvez demore para o seu filho entender o quao sortudo ele é, por que a maioria dos homens reclamam de ter que fazer a barba e gostariam de estar no lugar dele. Ah, concordo com a Beth: você é grande, Nina! Beijos

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  8. Realmente o mundo não é um lugar justo... rsrs. Seu problema é simplesmente o oposto do meu. Odeio ser alta e grande, tudo meu é grande tudo fica sobrando, ou então as roupas ficam faltando. Para homem então, ainda mais no Brasil, que é um país de homem baixinho que odeia mulher alta, na hora de encontra alguém é um fator que dificulta.

    Beijocas

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  9. Nina, acabei rindo . Já quis ser mais alta também, ainda mais quando jogava volei na escola e só servia como levantadora, kkkkk.
    Mas nunca foi algo que incomodou demais não. Com meus 1,58m, nunca encanei porque em casa só tem gente baixa, somente meu irmao mais velho chegou nessa faixa de 1,70.
    Minha mae é menor que eu.
    Mas deve ser pelo trauma que sempre admirei os homens altos (Deus me livre de me casar com um homem baixinho). Maridon tem 1,85. E como eu gosto de ser a baixinha dele, ahahahahhaah.
    Um beijo

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  10. A gente sempre tem uma coisinha que queria melhorar, mudar ou imaginar como seria se fosse assim ou assado. Com o tempo ( ah o tempo) a gente aprende a conviver com tudo numa boa e a se gostar mais e mais, essa confianca e o melhor produto de beleza!

    bjks

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