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Esmola. Dar ou nao?

Nos últimos anos tem aumentado o número de pedintes na cidade em que vivo. Há obviamente e isso nao é novo, artistas tocando instrumentos, personagens fantasiados parados feito estátuas, ou mostrando uma ou outra invencao qualquer, deixando seu chapeuzinho no chao pra arrecadar uns trocados. Mas hoje em dia há também pessoas que se sentam no chao e sem fazer nada, ficam lá pedindo ajuda. 


Confesso que nunca, em tempo algum, soube lidar com mendigos. Nunca sei se devo dar esmola (detesto essa palavra!) ou nao. Tenho receio de alimentar esse vício nas pessoas e ao mesmo tempo, estou constantemente pensando, Meu Deus, deve ser constrangedor para muitas delas, precisar passar por essa situacao.

Ontem mesmo, andando por uma rua do centro, passei por um moca com lenco na cabeca, sentada no chao. Ela me olhou com uma carinha tao doce. Trocamos um sorriso e passei direto. Andei uns cem metros, me sentindo angustiada. Tinha muito pouco dinheiro na bolsa, porque estou determinada  a  economizar de verdade, depois das férias no caríssimo Brasil. Mas a imagem daquela moca na saía da minha cabeca. Entao entrei num supermercado. Fiz as poucas compras que precisava para o jantar, e separei um bombom de chocolate e dois euros. Voltei no mesmo caminho que fiz a fim de encontrar a moca, mas ela já tinha saído dali. Olhei pra todos os lados, procurando-a e fiquei chateada comigo por nao ter feito isso antes. Fiquei lá, no meio da multidao, com cara de tonta. Me dirigi ao ponto do bonde. Nao passaram três minutos, surgiu um homem com um papel nas maos. Ele me mostrou para ler, eu recusei. E todos faziam o mesmo. Vi de soslaio que havia a foto de uma crianca. Isso algumas vezes me irrita. Como saber se aquilo é verdade? E se for só mais uma montagem, uma mentira? 
O homem foi se distanciando, tentando repassar o seu papel. Fiquei de novo com a mesma sensacao de antes, com a mocinha. Uma coisa ficava me cutucando, dizendo: E se fosse com você? E se fosse a sua filha ali, realmente doente? E se você fosse um estrangeiro num país onde nao sabe a língua, que nao consegue arrumar um trabalho?

Sei que pensar assim nao é muito inteligente, sei que algumas pessoas que estao na rua pedindo, usam dessa arma, mas... ah sei lá! Ontem isso bateu em mim de forma diferente.

Saí correndo atrás do homem, gritando, senhor, senhor, por favor, senhor.. ele nao parava, continuava sua peregrinacao pela rua, andando rápido, até que o alcancei. Perguntei se aquela crianca na foto era sua filha, mas ele disse em francês que nao entendia, e que poderíamos falar na sua língua. Eu nao disse nada, apenas coloquei na mao dele o que tinha reservado pra mocinha e saí rapidamente, enquanto o ouvia dizer alto merci madame, merci, merci.

Alguma coisa saiu de cima de mim. Um peso. Uma culpa?

Peguei o bonde e fui para casa. No ponto onde iria parar, passei no meio de um casal de uns 60 anos, sentado logo na frente. O homem, um senhor com os cabelos cacheados e meio rebeldes, com barba grande e usando bermudas num tempinho nada quente, havia pedido antes, ao motorista do bonde, parado num sinal vermelho, que por favor, abrisse a porta para ele e sua esposa entrarem. O motorista fez que nao com a cabeca. Relutou inicialmente igual a mim antes, com os pedintes, depois olhou os dois parados à porta, e fez mencao rápida para eles entrarem logo, já que ele nao podia abrir a porta ali.  Enquanto esperava o bonde parar no meu ponto, olhei para o senhor de cabelos rebeldes e sorri. Só isso! O homem me olhou assustado e nao respondeu ao meu sorriso. Quando o bonde parou, o senhor tocou meu ombro e disse: einen schönen Tag noch! (algo como, tenha um bom dia) e sorriu e eu gargalhei curto, agradeci e desejei o mesmo pra eles. 

Desci do bonde. Fiquei rindo por todo o caminho até em casa. Maravilhada com as coisas de Deus.
Coisas de Deus? Sim, porque quem acredita, sabe, que cada passo seu, tem o dedo de Deus escondidinho...

Comentários

  1. Nina é difícil essa situação mesmo!
    Quando eu morava em Curitiba, sempre ia a um café na Praça Garibaldi e sempre passava uma menina vendendo chiclete. Eu sempre dava o dinheiro, mas nunca pegava o chiclete e sempre comprava um lanche para ela. E foi assim sempre que nós encontrávamos um dia ela pediu para que eu pegasse o chiclete, pois se eu não pagasse ela demoraria em vender. Um dia ela deixou de comer o lanche e eu perguntei o porquê, e ela respondeu iria levar para o irmão e eu prontamente disse que eu pediria um lanche para ele.
    Ela deveria ter uns sete ou oito anos, faz tanto tempo que não lembro, só não do rostinho.
    Mas é muito difícil mesmo em saber em dar ou não dar.
    Isso sempre acontece comigo, sou coração mole e esse sentimento de não saber se a pessoa precisa de verdade ou não é horrível.

    Bjosss

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  2. Um tema que deve ser sempre bem analisado,dar ou não! Mas adorei o final, a sensação da coisa certa e cumplicidade! beijos,chica

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  3. Oi amiga!

    É isso mesmo, acredito que muitas pessoas sentem a mesma coisa. Me sinto assim tmb às vezes, principalmente quando paro em um semáforo e as pessoas batem no vidro do carro, pedindo ou oferecendo algo... mas que bom que no seu caso, teve um final feliz.

    Um beijo, tenha um ótimo final de semana. Que Deus nos abençoe!

    Juli

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  4. Oi Nina!

    Um tema muito interessante o seu, sem dúvida: Dar ou não esmola?

    Dou quando meu coração pede. Não gosto quando vejo criança pedindo ajuda ou vendendo doces na rua, me dá um aperto no coração. Mas o que me irrita é quando vejo noticias de pessoas saudáveis se passando por doentes e pedindo dinheiro.

    gostei muito da reflexão do seu texto.

    Beijos e um final de semana maravilhoso,

    Selma

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  5. E eu, aqui, choro, né?
    Tenho sempre essa mesma sensação sua, dar ou não dar?
    Prefiro não dar dinheiro.
    Na minha rua (bairro simples) sempre tocam a campainha, pedindo dinheiro. Rapazes, moças, velhos...Raramente dou dinheiro, prefiro dar um alimento (cru). Às vezes recusam, querem só o dinheiro mesmo...
    Quando eu era mais nova, passavam muito na porta de casa dos meus pais pedindo "sobra de comida". Esse era o verdadeiro necessitado. O que quer apenas matar a fome...E ainda acontecia de darmos, tudo ajeitadinho, esquentado, carne, etc. e no outro dia descobrir a comida e a vasilha jogados fora (sem a carne), mais adiante.
    Histórias tristes, Nina, Uma das coisas que mais me comovem é ver gente na rua, sem casa, sem abrigo. Algumas vezes até por opção.
    Mas o que você deu, com seu sorriso, às vezes vale muito mais do que qualquer quantia.
    Você viu, enxergou, o outro.
    Beijo!

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  6. É bem complicado isso. Se aí ta assim, imagina aqui no Brasil como tá...

    Aqui no meu bairro tem muitos mendigos, muitos mesmo, e acho que o crack colaborou muito para isso, antes os viciados em álcool eram mendigos, agora são os viciados em crack que são bem mais violentos, tem uns aqui que quase tomam as coisas da sua mão, tem que ter cuidado mesmo.

    Como nunca sei se é um usuários de crack ou não, prefiro não dar esmolas. Prefiro ajudar os necessitados por outros meios.

    Beijocas

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  7. Também não sei lidar com essa situação, mas eu nunca dou (já dei esmola algumas vezes no Brasil e sempre me arrependi, assim como já dei roupas e comida aqui e lá e tb me arrependi).
    Tem vezes que fico muito triste, ninguém sabe o que o outro passou para estar ali, mas outras vezes fico com muita raiva. Como uma jovem que pede esmola há 4 anos todos os dias na frente do supermercado na minha rua, ela fala francês, tem boa aparência, falta babá e faxineira para trabalhar aqui em Paris, mas sair de casa para trabalhar 7 horas por dia e ganhar 1050€ por mês (salário mínimo) ela não quer!
    Mas para quem se sente bem fazendo uma boa ação dessas, penso que deve fazer como um amigo que sempre "abre a carteira": ele diz que faz o que a consciência dele diz, mas não se questiona o que vão fazer com aquele dinheiro. Se a gente fica se perguntando se é verdade ou se não é, vamos enlouquecer!!!

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  8. Nina, primeiro deixa te dizer que aquele teu período sabático em que ficaste sem postar algum tempo (lembras?) te fez bem por demais. Agora estás "uma máquina, mulher." Pisco os olhos e pronto! Já tem post novo da Nina.

    Segundo, quando comecei a ler este teu texto cheguei a pensar que estavas aqui, visto que as cenas que descreves são corriqueiras pra nós. Isto de dar esmolas tem se diga porque nem sempre a coisa é verdadeira. Por outro lado, se todas as vezes que eu for à Saens Pena, por exemplo, for abrindo a carteira, quem fica com ela vazia sou eu, de tanto pedinte que há nas calçadas. Agora até no Metrô há sempre um grupo de "cantantes" com cavaquinho, pandeiro e outros bichos. Não são pedintes, é claro, e é bonito, mas quem viaja todo dia, toda hora, como fica como, se colocar as moedinhas que eles pedem no chapéu ou no pandeiro? E a gente dá quanto? 25 centavos? 1 real? Olha só a situação! Isto começou durante a JNM com bolivianos, venezuelanos e tal porque ajudava a mantê-los aqui durante os eventos do Papa. Agora são os de cá mesmo.

    Quanto a este teu dia de culpa e arrependimento e vai e volta, deixa te dizer querida Nina: tu estás antenada e muuuito com as forças do bem "lá de cima" e isto não é pra qualquer um. Tás em harmonia com os "astros" e quem está à tua volta deve ser perceber e receber um pouco desta tua "luz"! Fico feliz por ti, Nina.

    beijos pitangueiros

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  9. Ai desculpa! Acabei fazendo um post em cima do teu. Olha só tamanho do comentário! Credo!

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  10. Nina confesso que eu não dou muito não.
    Valentina quer dar dinheiro para odo mundo, principalmente para os artistas que ficam em praças... rs Estes eu sempre incentivo!
    Mas é complicado toda essa situação, ontem ainda estava conversando com Ivan sobre desigualdade social... difícil solução.
    Agora o que estou de acordo com você 100% é sobre a última frase, Deus esta em tudo, em cada passo...
    beijokass

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  11. Nina, eu costumo dar dinheiro sim se for para gente idosa ou paralíticos, pois sei que estes têm pouca chance ou quase nenhuma de trabalhar e arranjar algo para viver, mas temos que ter cuidado ao dar, pois podemos também estar mantendo tais pessoas nas ruas e ganhando dinheiro com facilidade, como é o caso de garotos fazendo malabarismo na frente dos nossos carros. Não dou mesmo!
    E, por incrível que pareça, no meu bairro não tem mendigos, tem sempre garotos nos sinais das ruas mais largas, mas aqui dentro do bairro não tem gente nas ruas pedindo e nem dormindo. graças a Deus!
    Quanto a você, pessoa que está sempre ligada no humano, prestativa e de coração bom, sempre haverá alguém com um sorriso e uma benção para o seu dia.
    um grande beijo carioca


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  12. Eu acho mt corajoso alguem dizer que dá esmola sim. Nao que isso seja bonito, mas a pessoa que assume algo desse tipo tá indo contra a maré, que diz nao dar nada. Parece que existe os dois lados da moeda nessa questao (como parece haver dois lados da moeda pra tudo nessa vida). O que mexeu comigo nesse dia em especial foi o qt aquilo de me fazer de cega ficou me incomodando o tempo todo, enquanto eu caminhava, geralmente, nao me incomoda passar por um pedinte e nao dar algo, mas nesse dia incomodou demais. Sei la porque. No facebook pessoas que moram aqui disseram que há uma mafia ganhando dinheiro às custas de falsos mendigos, mas olha só, pra alguem se passar por mendigo, nao existe ja uma certa mendicancia na sua atitude?
    uma certa pequenês?

    Eu acho humilhante, constrangedor, pra um ser humano, mendigar. Acho que somente esta razao me faz ter vontade de ajudar. Dou mt pouco, dou trocado pra criancas tocando flauta ou violino aqui, p exemplo, porque sei que elas estao ali apoiadas por pais responsaveis, que querem que seus filhos aprendam a dar valor as coisas, que mostram como tudo tem que ter esforco,e os pais estao sempre por perto, apoiando. Isso é diferente de colocar filhos pra vender balas no sinais de transito? parece que sim, ne? sei la. É? A gente tem que levar em consideracao as diferenca sociais existentes entre ambos os paises, certo?

    (ps. sou 100% contra pais no brasil que colocam seus filhos pra vender bala em sinais de transito, ok?)

    Mas nesse dia, deixei meu coracao falar e nao me arrependi, nenhum pouco! mesmo que aquele homem que falava frances tivesse ido entregar meu eurozinho ao seu chefe mafioso, o fato é que eu me senti bem, e ele que vá um dia se entender com o chefe maior, aquele lá do alto ;-)

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  13. Eu sempre dou. Sempre. Essa semana paguei um suco para um senhor definitivamente bêbado. Alcoolismo é doença, meu pai é alcoolatra e eu entendo bem.
    Não quero saber o que vão fazer com a pouca grana que dou. Minha consciência pede que eu dê. Uma vez recusei esmola para um rapaz desagradavel e meu filho me disse:
    - Ponha-se no lugar dele!

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  14. Olá Nina!
    Obrigada pelo post! Tão cheio de sentimentos e das aflições que passamos ao nos deparar com uma situação tão delicada assim. Passamos por isso outro dia ao voltar com nossa filha da aula de ballet. Meu marido é radicalmente contra esmolas e disse não à senhora no sinal; ela ficou chateada e começou a rogar pragas para nossa filha. Fiquei sem palavras na hora e depois me arrependi. Queria dar uma moedas, queria ter respondido que ela não precisava ser tão dura com as pessoas, mas a vida deve ser tão dura com ela...enfim. Fiquei calada, gritando por dentro!

    Um beijinho
    Thaty

    http://deliriosdathaty.blogspot.com.br/

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