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Parto mais humanizado, por favor!

Mais uma vez, inspirada pelas postagens ótimas das meninas do Desabafo de Mae, venho comentar sobre um dos temas que a Ceila, continuando sua entrevista com o pesquisador Gustavo Venturi, fala dessa vez.  Essa segunda parte da entrevista se baseia agora nas percepcoes do que acontece ao nosso redor numa maternidade, na hora do parto.

Você já parou pra pensar nisso? Eu nunca! Por isso achei tao interessante o tema. Aqui o vídeo:



Isso é algo curioso. Fiquei pensando no quanto somos maltratadas enquanto parturientes.
Acho que infelizmente, depende muito da sua situacao financeira. Se você pode pagar uma maternidade particular, você pode mais ou menos, ficar tranquila, se você tem um médico que te acompanhará desde o início da gravidez até o parto, melhor ainda, mas e como ficam as mulheres que nao podem pagar? Como é o tratamento dessa mulher num hospital público?
Eu comentei com a Ceila que iria falar da minha experiência.
Tenho três filhos. Laura nasceu num hospital particular, nao porque podíamos pagar, mas porque ganhamos de presente um apartamento nessa maternidade de uma amiga do meu ex-marido. Mas antes, acabei indo a uma maternidade pública pra saber se as contracoes que sentia já eram as que estavam indicando a proximidade do parto. Tive que esperar horas até o médico chegar do seu lanchinho pra fazer o toque e dizer que eu deveria voltar pra casa.
Ali já me senti mal. E ali nao voltei mais.
O parto correu tranquilo, 15 horas depois disso, na maternidade particular que falei.
Na minha segunda gravidez, nao tive amiga pra me dar de presente um apezinho com ar condicionado e fui parar numa maternidade pública. O médico que me operou (meus dois partos foram cesárea por nao haver passagem alguma) nao me conhecia, e mal falou comigo. Com excecao de um enfermeiro que me acompanhava nos minutos antes do nascimento do meu filho, nao via ninguém naquele hospital. Levaram meu bebê de mim logo depois do parto e só voltaram com ele tempos depois, quando já tinham dado a ele uma mamadeira com chá (!!!) claro, sem meu consentimento, que NUNCA permitiria dar algo a ele que nao fosse meu próprio leite! Achei isso um absurdo sem tamanho! Aliás, com minha primeira filha também foi assim, mostraram-na pra mim rapidamente a uma distância de uns 2 metros, a envolveram num pano  e levaram-na embora. Só a vi depois de muito tempo.

Achei os dois partos tao estranhos, mas só percebi mesmo isso, bem depois do ocorrido.
Estava altamente sensibilizada e em stress como em qualquer parto pode ocorrer, me sentia fragilizada  e tinha uma mae me acompanhando muito pouco crítica e que ma passava medo (é melhor ficar bem quietinha minha filha, se a gente se estressa, pode ser muito pior, dizia minha mae sempre, tadinha, com receio que me tratassem mal por me rebelar em certas ocasioes) ficava entao sempre quieta.
O vídeo da Ceila me fez pensar muito nisso, o quanto de medo temos dessa hora. O quanto de receio temos em reclamar. O quanto de fantasmas rodeiam nossos pensamentos nas horas que antecedem o parto. O quanto de historinhas ouvimos de tanta gente, e o mais importante e sério fato, o quanto de medo temos em deixar certos enfermeiros e médicos mal preparados pra esse momento tao importante pra nós, ainda mais mal humorados. Se eles podem ser chatos, podem ficar ainda piores se nós fizermos reclamacoes, ou gritarmos de dor durante as contracoes, ou por isso ou por aquilo, entao, temos que ser resignadas, caladas e obrigadas a aguentar todos os desaforos aos quais somos sujeitas nesse momento, caso contrário corremos o risco de  sermos maltratadas, pisadas, cortadas, machucadas, xingadas sem o menor respeito, como se fôssemos todas carnes de vaca num acougue...

No meu terceiro parto, já aqui na Alemanha, a diferenca foi gigantesca!
O pré-natal foi todo com a mesma médica que sempre foi extremamente atenciosa (sei que é assim no Brasil, mas eu nao tive isso nas minhas duas primeiras gravidez, cada mês era um médico diferente, se você nao paga, nao tem qualidade no Brasil, nao adianta!
Aqui o trabalho mais importante é o das parteiras. Quem cuida da gravidez aqui, nao é nem mesmo o médico (esse só faz os exames mensais e o parto, se precisar ou se houver alguma cirurgia- cesárea ou outras complicacoes) nem os enfermeiros, mas sim as parteiras. Exatamente como as que quase nao ouvimos mais falar no Brasil. Elas acompanham toda a sua gravidez e sao especializadas em algum tipo de cuidado à gestante, p. ex., uma trabalha com massagens especiais, outra com shiatsu na água, outra, com massagem nos pés, etc, etc, etc. Sao elas que acompanham o parto e estarao lá durante todo o processo e te tratando como rainha, com paciência e carinho. 
Meu bebê nasceu também de cesárea, e logo depois do nascimento foi colocado sobre meu peito pra ouvir meus batimentos cardíacos, ele que chorou ao nascer, em contato com minha pele, no mesmo instante parou de chorar. Obs. nem todas as maternidades fazem isso, mas a maioria pergunta antes à mae se ela deseja que o filho seja colocado sobre ela ao nascer. O pai estava presente e foi muito bem preparado pela parteira  e enfermeiros como se comportar na hora do nascimento.
Em nenhum momento me senti maltratada, muito pelo contrário, achei que nunca me senti tao mimada em toda minha vida!
Preciso também explicar que todos os habitantes do país sao obrigados a terem um plano de saúde. E quase todos os servicos estao incluídos nesse plano. Os servicos das parteiras, p. ex., suas especialidades e seu acompanhamento, e ambos os cursos que menciono mas adiante, que sao feitos por elas, o plano de saúde cobre, com excecao de algumas poucas especialidades que ainda estao por alguma razao que desconheco, fora do plano.
As parteiras vem na sua casa, a partir do momento que você mantém o primeiro contato e essa visita é mensal e regular. Você é dirigida a um curso de preparacao para o parto, onde por seis semanas recebe todas instrucoes de como se comportar num parto normal (que é o mais recomendado aqui), onde esclarecemos todas as dúvidas e fazemos ginástica leve que aliviam algum  mau estar da gravidez, p ex. Depois do parto, somos convidadas a fazer um outro curso, agora com a intencao de trocar informacoes umas com as outras e fazermos ginástica que ajudará o corpo a voltar ao seu tamanho normal. As parteiras também acompanham as maes após o nascimento do bebê, vindo em casa e auxiliando naquilo que for necessário, até quando você precisar.

É isso! Eu nao posso dizer que fui maltratada nas maternidades no Brasil, mas vi gente que foi. Enquanto aguardava as próximas contracoes, e sofria calada no meu canto com as minhas dores, por recomendacao da minha mae, ouvia outras mulheres gritando de dor e ouvia ao mesmo tempo as enfermeiras xingando as mulheres de molengas e frouxas... e bom, a gente sabe das hstórias que tantas outras mulheres contam.

Você que é mae, lembra de como foi pra você? O que você sentiu e como eram suas expectativas antes do parto? E como você se sentiu depois?
E você que ainda nao é mae,  como você pensa que será o seu e o que pra você é importante no momento do nascimento de seu filho?

* * *

ps. este post é a minha singeleza contribuicao ao que a Ceila considera uma luta de todos nós, por um parto mais humanizado!

Comentários

  1. Ei Ninoca, to de volta minha linda! Li seu outro post e fiquei p. da vida, vc tem que denunciar mesmo, num deixa acontecer uma próxima vez não que essa pessoa é doente, sem dúvida.
    Agora falando sobre parto humanizado, tenho acompanhado vários blogs de gestantes aqui do brasil e vejo que muitas estão se preparando para este tipo de parto, muitas delas querem fazer em casa mesmo, com a presença da família. Em outros blogs, vi que muitas mães já poem usufruir disso mesmo em hospitais com médicos convencionais. lembro das história da minha mãe-vó que teve a maioria dos filhos com auxílio de parteira. Hoje ouvimos falar das doulas mas em locais muito específicos do Brasil. Eu como vivo pensando em quando vou me tornar mãe já pensie muito sobre o assunto, o problema é que eu sou froxa, morro de medo de sentir dor e o parto normal me assusta. Mas ainda tenho bastante tempo para me informar.
    Bjos grande ni tu!!!

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  2. Ei Dani!
    pois é, eu apesar de nao ter tido nenhum parto normal, posso te garantir que a dor é totalmente suportável, eu senti todas as dores das contracoes, e só nos últimos minutos, resolveram me operar porque só tinha, após mais de 23 horas de dor, 2 centímetros de diâmetro pra passagem do bebê. Eu tbm morria de medo, mas eu acho sinceramente, que todo esse medo é proveniente do que tanto metem na nossa cabeca. É só uma forte cólica seguida de algo como caibras, nada mais que isso, e sao, mesmo, suportáveis.
    E o mais importante, natural! e vc se recupera tao rapidinho, diferente da cesárea que meu Deus do céu, é mt chata a recuperacao :-(

    Falei de parto humanizado, apesar de nao ter tido natural, mas acho que o video abre as portas pra essa discussao, de como somos tratadas de forma desumana naquilo que deveria ser mt mais humanizado.
    Mas enfim, minha contribuicao a Ceila.

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  3. Olá

    O tratamento dispensado a parturiente é extremamente importabta. Eu passei uma experiência no nascimentoda minha primeira filha 32 anos), atendimento de convênio, em quarto particular que considerei discplicente. Só fui operada, cesária, após 18 horas de bolsa arrebentada. O médico que me acompanhou na gerstação sofrera um acidente e fui atendida por um substituto que poderia ter me operado no seu plantão, mas se foi me deixando por conta do outro plantonista. Só retornou após muita insistência. O resultadfo disto foi sentido dias depois, tive um infecção hospitalar que me deixou 10 dias internada.
    Amor a profissão é o que falta a classe médica, em muitos casos, além é claro do péssimo atendimento à sáude no Brasil.

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  4. Peguei sua caixinha, olha, não vou te enganar não. Prefiro que você leia o post que fiz:

    http://blogprarelaxar.blogspot.com/2011/05/presentinhos-da-nina.html

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  5. Claro, Nina! Faça isso, Vou aproveitar e colocar a foto no meu post, que é para ilustrar melhor.

    Eu até pensei em tirar um foto, até tentei, mas não ficou legal, minha máquina é nova e precisa de uns ajustes que ainda não peguei bem... rs

    Beijocas

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  6. Nina eu ainda sou somente filha kkkk mas quero muito ser mãe, o que eu desejo? Ter um parto normal e sem dor, será que é querer demais?

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  7. Ai, Nina! Queria eu ter lido e me informado assim antes dos meus dois partos. Mas confesso que me senti muito confortável com a data marcada, tudo prontinho, anestesia, familiares a postos...rrsrsrsrs...Foi tudo muito tranquilo também. Em cidade pequena temos também algumas facilidades, como por exemplo, ser amiga dos médicos, das enfermeiras, do pessoal do hospital. Isso ajuda muito, né?

    Beijos!

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  8. Oi Nina,

    Então, sempre que penso em ter filhos, minha ideia inicial sempre foi parto normal, como a maioria das minhas irmãs, mas nunca tinha me imaginando em parto normal em casa. Mas ando lendo varios blogues aqui do Brasil que fala sobre isso e confesso que a ideia tem me atraido. Minha mãe teve seus 8 filhos em casa, todos com parteira (inclusive eu). Ainda tenho muito o que pensar, mesmo porque nao pretendo ter filhos por agora, mas vou conversar com minha maezinha sobre isso.
    Ahhh, ainda nao vi o video (e ja fui logo querendo comentar, ahahah). Vou ver.
    Beijoos

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  9. Oi Nina,

    É querida, realmente é muito descaso com a parturiente, e óbio que tem mais $ sofre menos...isso é pra vida e nem só pra hora do parto. As enfermeiras em sua grande maioria são exatamente da forma aí descrita por ti, penso onde está a humanidade da grande maioria dessas profissionais de saude?

    Meu Parto?? Ah! meu parto...
    Edna (bio) gritava de dor, e eu me contorcia de ansiedade e de dor de tanto que ela esmagava minha mão...rsrs

    Valeu a pena, vale a pena, ele é a bomba que bombardeia o sangue do meu coração.

    Beijo pra mãe e filha!

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  10. Nina, eu tive dois filhos naturais e oito abortos. Meus filhos foram prematuros...eu sempre tive dificuldades em ter filhos. Eu sempre fui bem acompanhada por médicos e enfermeiros.

    Ah, esqueci..eu tenho facilidade a dor...é algo que os médicos que me acompanharam disseram...Foram cesáreas, por causa do tipo mesmo. Meu filho mais novo, hoje com 17 nasceu aos seis meses...O levei para casa, com 1.300 g e pesei numa balança de supermercado.
    Alimentei a criatura, escondida da pediara, com Mucilon e muita fé.>Ele sobreviveu.
    Mas, minha irma que é enfermeira fala cada coisa..que Deus nos livres e guarde...
    dias felizes

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  11. Oi Nina, acabo de descobrir seu blog e já gostei demais! Tive meu filho (hoje com 5 anos) numa maternidade particular, com plano de saúde, etc., mas mesmo assim, não foi lá grande coisa, não. Foi cesárea e a anestesia não pegou direito, senti dor e ao avisá~los, sabe o que fizeram? Me deram um "sossega leão" que me deixou grogue; continuei sentindo tudo, consciente, mas não podia falar, nem me mexer. Fiquei desesperada!
    Depois, tinha os seios estourando de leite e ao invés de esgotarem (era madrugada,nenhuma plantonista queria fazer)me obrigavam a chacoalhar meu filho para acordá-lo para mamar. Vc é inexperiente, está insegura, com dor... o que te mandam, vc faz sem questionar. Só depois me dei conta do absurdo de tudo isso, mas fiquei com tanto medo que entrei na fila para adotar uma criança, por não ter coragem de ter outro filho, embora quisesse muito. De um tempo pra cá, estou me encorajando, encontrei uma médica muito bacana a quem contei tudo isso,e ela tem me incentivado; agora estou tentando engravidar e pensar que tudo pode ser diferente desta vez. Espero conseguir!
    Desculpe pelo comentário gigante, mas adorei as discussões, os assuntos e as ideias! Parabéns e um grande abraço aí na Alemanha pra vc!

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  12. Nina, querida, muito obrigada por dar continuidade naquela conversa. Só agora resgatando os posts sobre violência da mulher, vi seu comentário e venho aqui conhecer sua generosidade em partilhar os nascimentos dos seus filhos...Com certeza, vou resgatar isso lá no Desabafo de Mãe assim que conseguir postar o último vídeo com Venturini, ok? OBRIGADA SEMPRE E ETERNA GRATIDÃO!

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