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Um estrangeiro

  • Quase todos os dias eu danço com Pedrinho na sala. Todo tipo de música, mas as preferidas são as brasileiras. 
      Às vezes eu choro.

  • Estávamos passando uns dias  de folga na Itália, na praia. Marido e eu fomos tomar uma cervejinha rápida, pois Pedrinho estava no Sling (descobri o nome daquele pano finalmente). No meio da cerveja, começa a tocar música brasileira. Alguns italianos cantam junto.
      Às vezes dá uma vontade de chorar...

Música é a forma mais rápida e eficaz de alcançar meu coração. Desde muito menina, eu já entendia o poder milagroso da música. Hoje ela é a maneira mais fácil de me fazer viajar de volta ao Brasil. Saudade de lá continuo não tendo, mas ao ouvir uma boa música, às vezes duvido dessa falta de saudade...
Essa escolha de morar fora tem desses dias, sabe?! Você passa 364 dias do ano, certa sobre sua decisão, fica esse tempo todo só apontando aqui e ali, as vantagens de estar longe da confusão que é  o nosso país, até que um único dia é capaz de te deixar assim, com uma saudade inexplicável. Uma sensação de querer  voltar às origens, de quere ter o pé no chão.
E nesse dia, a gente chora...
E daí a gente nota o quanto sente falta.
Quando fazia um dos meus cursos de alemão, a professora perguntou o que nos fazia saber o que era a nossa pátria. A minha resposta foi a mais simples, entre as complicadas da minha turma de pseudo-intelectuais: eu acho que é quando você tá sobrevoando a cidade, depois de um voo longo,  sem ter percebido ainda aonde está de fato, então o piloto fala da cabine do avião,que ali embaixo, do teu lado esquerdo, ou direito sei lá, é a tua cidade. Então você olha  lá embaixo, e vê o brilho dela, vê um tapete estrelado (se for à noite), e reconhece aonde está imediatamente. Você entende que ali é o teu lugar, é daquilo  que você é feito, é ali que você pertence. Isso pode acontecer mesmo se você estiver fora do seu estado por um tempo, ou fora do seu país, não importa...
Quando você mora fora do seu país, ao fazer essa escolha, você nota com o passar do tempo, que você está longe do que você é. Longe do que te pertence. E aí, se nota um estrangeiro, finalmente. Você tem que conviver com isso pra sempre, ser um estrangeiro simplesmente. Você vai sair nas ruas e vai entender que todo mundo te vê assim, e você sabe que é assim. Mesmo que você fale bem o idioma do país, mesmo que tenha amigos, mesmo que os teus conterrâneos pensem que você "tá rico", você sabe qual a sua real condição. É uma questão de escolha, e de ser forte o suficiente pra encarar a decisão de permanecer, ou de voltar a tua origem, se caso decidir por isso.
Sabe, às vezes, dá sim, vontade de chorar...



ps. Não, não estou triste, não quero voltar, não estou com saudade... é só uma reflexão sobre um fato... quero dizer, sobre o meu fato!

Comentários

  1. Concordo querida Nina, sem por menores! Preciso te dizer que estou super feliz aqui e com minha decisao, a escolha que fiz. Saudades tenho siim, da familia. Mas no mais nao tenho o que reclamar, ahhh e uma musica, sim sim meu coracao se enche com "um tal o que" e tudo no corpo se preenche; ou a gente danca ou a gente chora. =) Enfim, a condicao e sim de estrangeiro, mas felizes de termos achado o lugar confortavel para nosso coracao. Nao consigo me imaginar sem o meu amore! :D
    Beijokas maninha

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Oi, Nina!
    Entendo plenamente você e o que diz aqui neste post deste blog que está lindinho com o novo layout.
    Eu também, se tivesse marido e filhos perto, sentiria apenas falta da família, mãe, irmãos, alguns poucos amigos, mas de resto, ouviria músicas brasileiras e olharia apenas o Brasil em postal ou em visitas anuais, de resto poderia ficar à distância.
    E o pior é que com o cenário político se desenhando como está, a situação poderá ficar bem pior até.

    Que coisa mais linda você dançar com seu filhinho no colo! Isso pode ser um traço da nossa boa brasilidade, esse jeitinho amoroso e feliz que, parece ter nascido com todo brasileiro.

    um super beijo carioca

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  4. Oiii Nina,
    Nostalgia é fogo, mas quem diz que não sente, certamente já morreu e não sabe. Nosso chão é um só. Com escolhas e sem escolhas. Lá vem um dia em que um cheiro, uma cor, uma música, uma palavra, sei lá..., alguma coisa traz a nostalgia ao nosso coração. Mas ela passa voando, assim como chegou. Ainda bem. Beijos amiga.

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  5. Oi Nina,

    Tm sinto essa sua mesma emoção, todas às vezes que chegamos em Fortaleza, vindos de BSB. Apesar de morar na capital há 7 anos, e gostar muito daqui, sinto que não pertenço a esse lugar, as minhas raízes estão lá no meu Ceará, sem contar a minha família que eu adoro, e que é o meu porto seguro de todas as horas. Quando do avião, vejo aquela paisagem linda, misturando mar e setão, aquelas dunas branquinhas, sinto um aperto no peito e uma vontade de chorar, por saber que estou de volta ao meu lugar.

    bj pra vc e Pedrinho.

    Ivana

    PS: Só uma sugestão: porque não muda o nome do blog para "Entre Mãe e filhos". (enxerida, heim?)

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  6. Pink Nina, eu te entendo bem. Eu sempre digo que a gente só se conhece pelo outro. Eu só sei que sou calma quando lido com um outro nervoso, por exemplo. Só entendi que era brasileiro quando morei nos Estados Unidos, mesmo que por pouco tempo. Depois dessa experiência sinto muito forte essa nacionalidade em mim... eu amo o Brasil e não é com esse amor de admiração não. É amor de "belonging".

    Apesar de ser BRASILEIRA, sinto um bicho desgarrado neste país. Passei a infância no MS, a adolescência no MG e agora a vida adulta em SP. Vivi fases importantíssimas nesses 3 estados, mas nenhum deles me faz sentir em casa. Sou estrangeira sempre, lá e cá. Às vezes eu penso que o único lugar que me faz sentir em casa mesmo é a casa da minha vó, que é a mesma desde sempre.

    E ah! Amei o layout novo. Lindo. Lindo. Lindo!

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  7. Oi Nina!
    Entendo perfeitamente o que dizes, porque morando fora de Belém há 12 anos, me sinto pertencente ao meu novo lugar (Floripa), mas não choramingo mais de saudades. No entanto, quando volto pra lá, que do avião já enxergo o nosso rio, o nosso céu carregado de nuvens e depois, quando sinto o calor, vejo as ruas do caminho do aeroporto até em casa, aí sim sinto que estou na minha terra, junto aos meus e a tudo que de fato me pertence que que carrego comigo onde quer que vá!
    Beijos no Pedrinho!

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  8. 'Quem disse que eu me mudei? Não importa que a tenham demolido:
    A gente continua morando na velha casa em que nasceu.' Mário Quintana.

    P.s.: Ninoca querida faltam 7 meses para minha filha voltar... estamos contando as horas, os dias, os meses :-).
    Beijos, muitos!

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  9. Ah, Nina, é isso mesmo...

    Lindo esse seu texto, ainda que tenho ecos de melancolia, lindo.

    Eu, como já escrevi tantas vezes lá no blog, sou outras das que tem trilha sonora para a vida.

    Beijo

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  10. Nina, posso apenas imaginar o que estar longe de tudo o que se conhece, porém diz uma frase que lar é onde está nosso coração... então você está em casa ainda que distante e diferente. Beijos, fiquem com Deus

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  11. cuida bem do baby e seja feliz...a vida corre, o tempo é célere...bjs e dias felzies
    Grace Olsson

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  12. Passei por aqui, tenho passado sempre. Sei do que você fala neste post. Bonita forma você achou de falar do que sente.
    beijo grande
    Berê

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  13. Nina, que saudade daqui... Como vc está? E o seu bebê, como está?
    Lendo o que vc escreveu, não consigo me imaginar assim tão longe, eu sou meio nostálgica e apegada, então me apavora essa idéia. A sua descrição de como é estar na nossa pátria é tão verdadeira, é um sentimento que acontece (pelo menos comigo) até quando vc fica longe do seu estado, quando volta, dá um aconchego, uma certeza estranha...

    Bjus, bjus, bjus

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  14. Muito bom seublog estou curtindo muito parabens!

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  15. Muito bom seublog estou curtindo muito parabens!

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  16. A música é o meio de trasnporte mais rápido que desperta dentro de nós lembranças aparentemente esquecida. bj

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  17. Saudade de você...
    Tá tudo bem por aí, não é?!
    Claro que sim.

    Recebi a sua carta, mas aconteceu tanta, mas tanta coisa depois, que ainda não consegui responder.
    Tô esperando minha vida estabilizar, pq senão as notícias darão um livro. rs.

    Beijos, beijos, querida.

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